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A nova maçonaria

por Johnny Bernardo*

É fato: a maçonaria passa por um processo de intensa crise no Brasil. Fundado em setembro de 1822, o Grande Oriente do Brasil (GOB), se diz “a única potência brasileira a deter o reconhecimento primordial, secular e definitivo da Loja-Mãe da Inglaterra e inscrito entre as quatro maiores potências maçônicas do mundo”. A informação, concedida pelo secretário geral de gabinete, Antonio Gaviolli, revela parte da crise pela qual atravessa a maçonaria. O GOB, que teve participação nos principais processos que marcaram o Brasil monárquico e republicano, atualmente se vê impotente diante dos acontecimentos nacionais, como os protestos populares, das ruas e a crise política. 

Cismas. De única instituição representativa, a partir de 1927 o GOB passou a dividir o cenário nacional com o primeiro cisma conhecido, a Grande Loja Brasileira e, a partir de 1973, com a Confederação Maçônica do Brasil. Atualmente há várias lojas e confederações. 

Números. A evasão de membros, de lojas do GOB, e a grande diversidade de lojas maçônicas por todo o País levou à estagnação numérica. Segundo a List of Lodges (2011), há 211.000 maçons no Brasil, dos quais 75.987 fazem parte do GOB e 106.112 possuem ligação com as grandes lojas confederadas à Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil – os demais 28.942 membros fazem parte das 17 Grandes Lojas Orientes Independentes.

Polêmicas. A recente história da maçonaria é marcada por algumas polêmicas, como o registro de 21 livros “secretos” da Ordem na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, pelo então grão-mestre Marcos José da Silva – fato que levou a revista ISTOÉ a publicar a matéria Impeachment na maçonaria (2010). Outra polêmica é a aceitação de mulheres em obediências mistas.

Estratégias. Para melhorar os índices de crescimento algumas lojas veem investindo em meios de comunicação, como programas televisivos - veiculados em canais abertos –, desenvolvimento de sistemas internos de comunicação, com rádio e TV, e sites onde é possível acessar vídeos de entrevistas, reuniões públicas e até mesmo verificar endereços de lojas. Outra inovação é a veiculação de manuais de abertura de lojas, como a da Ordem Maçônica Mista Internacional “Le Droit Humain”, que estabelece onze pontos a serem observados. As novas estratégias surpreendem porque a maçonaria sempre foi conhecida como uma organização secreta ou discreta. 

Filiação. Ainda como parte da estratégia de crescimento, hoje é possível se tornar membro da maçonaria com um simples preenchimento de cadastro online. Confirmado o cadastro, algumas horas ou dias depois um representante entra em contato com o postulante para agendar uma entrevista em uma das lojas-sede mais próximas, onde é dado prosseguimento ao ingresso na Ordem Maçônica. Também há uma taxa a ser paga, cujo valor varia de loja para loja. O GOB é um dos poucos representantes que seguem o modelo primitivo – que é a filiação por indicação.

A crise pela a qual a maçonaria atravessa possui outros fatores, como as diversas críticas e polêmicas externas da qual é alvo, a suspeita de alguns setores, e o aspecto ultrapassado da organização – elementos estes considerados como barreiras a serem derrubadas, via modernização da Ordem, necessária ao crescimento, dizem seus representantes.



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* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)

Contato: pesquisasreligiosas@gmail.com