tag:blogger.com,1999:blog-42405600350053846062024-03-13T12:23:20.359-07:00BRASIL RELIGIOSO Observatório da religiosidade brasileiraJohnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comBlogger55125tag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-44278563852182036342016-04-29T15:05:00.000-07:002016-04-13T17:52:32.189-07:00<ul>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2016/04/a-54-conferencia-geral-da-cnbb-e.html">A 54ª Conferência Geral da CNBB e a constatação do declínio católico no Brasil</a></span></li>
<li><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2015/07/o-brasil-e-o-estado-laico-uma-entrevista.html">O Brasil e o Estado Laico; uma entrevista</a></span></li>
<li><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2014/05/religiao-e-desempenho-escolar.html">Religião e desempenho escolar</a></span></li>
<li><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2014/04/o-estado-brasileiro-e-estruturalmente.html" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">O Estado Brasileiro é estruturalmente católico</a></li>
<li><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2014/03/o-pentecostalismo-em-processo.html">O pentecostalismo em processo</a></span></li>
<li><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2014/04/disputa-por-fieis-movimenta-importante.html"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Disputa por fieis movimenta importante avenida de Mauá, no ABCD</span></a></li>
<li><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2014/03/o-protestantismo-historico-e-o-processo.html">O protestantismo histórico e o processo educacional no Brasil</a></span></li>
<li><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2014/02/religioes-orientais-na-capital-paulista.html"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Religiões orientais na capital paulista</span></a></li>
<li><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2014/01/construcao-de-macumbodromos-fere-o.html">A construção de macumbódromos no Rio e o Estado laico</a></span></li>
<li><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/conhecendo-crencas-evangelicos.html">Conhecendo Crenças: Evangélicos</a></span></li>
<li><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/brasil-evangelico-e-seus-significados.html">Brasil evangélico e seus significados</a></span></li>
<li><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2014/01/os-novos-rumos-da-igreja-deus-e-amor.html">Os novos rumos da Igreja Deus é Amor</a></span></li>
<li><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/igreja-evangelica-brasileira-realidade.html"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Igreja evangélica brasileira: realidade e desafios</span></a></li>
<li><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/a-laicidade-no-ensino-publico.html">A Laicidade no Ensino Público</a></span></li>
<li><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/o-baixo-crescimento-do-protestantismo.html">O baixo crescimento do protestantismo histórico</a></span></li>
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Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-58069938876975859202016-04-13T17:51:00.001-07:002016-07-10T16:15:43.715-07:00A 54ª Conferência Geral da CNBB e a constatação do declínio católico no Brasil<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Para uma religião que até pelo menos o ano de 1891 – ano da promulgação da primeira constituição republicana – gozava de plena liberdade de atuação e apoio governamental, atualmente o Catolicismo Romano vive um momento de profundas reflexões sobre a sua atual conjuntura e os desafios da diversidade religiosa brasileira. De fato o Catolicismo não possui mais o mesmo poder de atração – compulsória ou não – de fieis como possuia nos primeiros 390 anos da história do Brasil, e há motivos para se preocupar: dos mais de 123 milhões de pessoas que se declaram católicas, apenas sete milhões frequentam regularmente as missas, o que representa 5% do total de católicos brasileiros. Na verdade, nunca houve um real envolvimento dos fieis com a religião trazida pelos portugueses, e a situação tende a piorar nas próximas décadas, como a própria liderança católica acredita. </span><br />
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">De fato o Catolicismo Romano estabeleceu suas bases sem um fundamento sólido, razão pela a qual – principalmente em Estados do Norte e Nordeste do Brasil – fieis católicos participam de outros cultos religiosos ao mesmo tempo em que participam da eucaristia. Não é uma novidade para ninguém, e principalmente para quem acompanha a fenomenologia religiosa brasileira. Some a esta particularidade católica a uma série de outras dificuldades enfrentadas no pós-1891 e chegaremos a uma religião que se vê diante de um dilema: manter seus traços históricos, sua liturgia tradicional, ou aderir a um formato mais leve, participativo, com enfoque na formação religiosa de seus fieis? São diversas as opções em discussão, e o Movimento Carismático é um dos resultados conhecidos da movimentação de parte do catolicismo para impedir a debandada de fieis.</span><br />
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Além de disputar espaço com as igrejas evangélicas, a Igreja Católica se vê diante de uma sociedade pluralista, que passa pela aceitação do homossexualismo e o ateísmo que tem tido um considerável crescimento nos últimos anos. Sobre o ateísmo, dados coletados pela Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), e que estão em discussão na 54ª Conferência Geral da CNBB (esta com realização entre os dias 6 e 15 de abril), demonstram que o segmento teve um crescimento de 1% entre 2010 e 2014. Se em 2010 o número de ateus estava na casa dos 7,9%, em 2014 o número chegou aos 8,9%. O aumento do segmento foi recebido com preocupação pela Igreja, mas com um reconhecimento de que “durante 400 anos, todo mundo no Brasil era obrigado a ser católico […] Hoje vivemos um regime democrático também na religião e é natural que, com mais opções, haja uma distribuição”, reconheceu o bispo da cidade de Santo André, Dom Pedro Cipollini</span><br />
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">A declaração do Dom Pedro Cipollini pode ser destacada como inédita, pelo o fato de que nenhum outro líder católico veio a publico reconhecer que “durante 400 anos todo mundo no Brasil era obrigado a ser católico”. O reconhecimento foi feito em entrevista ao jornalista José Maria Tomazela, do Estadão, e consta da <a href="http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,aumento-do-numero-de-ateus-no-pais-ja-preocupa-igreja-catolica,1853820" target="_blank">reportagem</a> “Aumento de número de ateus no País já preocupa Igreja Católica” (09 de abril de 2016). Antes tarde do que nunca, obviamente. Estava na hora de uma liderança da CNBB reconhecer que o estabelecimento do Catolicismo no Brasil se deu pela via do autoritarismo e centralismo. A realidade é outra desde a promulgação da Constituição de 1891, que desde então a pluralidade de confissão religiosa e filosófica passou a ser uma realidade no Brasil. Hoje não faz mais sentido dizer que alguém “nasceu católico” porque a conversão não é mais hereditária, mas sim opcional e ao longo dos anos da juventude e início da fase adulta. É uma lição que deve ser seguida também pela liderança evangélica nacional, principalmente pensando que a Igreja evangélica assumirá a dianteira em alguns anos. É preciso respeito à diversidade religiosa.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">________________________</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">*é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão</span><br />
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-88943958826207256152015-07-06T15:03:00.000-07:002016-07-10T16:14:54.386-07:00O Brasil e o Estado Laico; uma entrevista<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Confira, a seguir, a recente entrevista concedida pelo pesquisador Johnny Bernardo ao jornalista Fernando Turri, da revista Plural (ESPM-SP). Parte da entrevista foi inserida na matéria <i>A Utopia do Estado Laico no Brasil</i> (pp. 48-50). Esta e outras matérias compõem a sétima edição da <a href="http://issuu.com/revistaplural/docs/plural_7_completa" target="_blank">Plural</a>. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>Revista Plural. </b>O Estado deve ser laico? Por quê?</span><br />
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>Johnny Bernardo. </b>Sim, é algo imperativo. A laicidade pressupõe neutralidade em questões religiosas. A passagem do Brasil Monarquia para Brasil República é um marco histórico e jurídico que implica na laicização do Estado brasileiro. Neste sentido, os primeiros 389 anos da história do Brasil foram marcados por uma constante confusão entre o Estado e a Religião. Controlada pelo governo, a Igreja Católica se sobrepunha as demais religiões presentes clandestinamente no Brasil, impedindo a democratização do acesso a outras confissões. Dessa forma, a ausência de um Estado laico era um impeditivo ao surgimento ou estabelecimento de novas religiões no Brasil. Portanto, a laicidade é importante porque estabelece uma separação entre o Estado e a Religião, como também universaliza o direito a livre expressão religiosa. Outro fato importante é que a diversidade religiosa brasileira exige uma posição neutra do Estado, de modo a não privilegiar nenhuma religião ou movimento confessional. Os Estados teocráticos – a exemplo do que observamos em parte do mundo islâmico – são exemplos da ingerência ou da relação indevida entre Estado e Religião, com reflexo social. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>Quais são os riscos que advém da união entre o Estado e instituições religiosas?</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Há inúmeros riscos, a exemplo do que observamos nos Estados teocráticos. A confusão entre o Estado e a Religião – no caso, nos países islâmicos – é tipificada pelas inúmeras proibições e cerceamentos impostos aos cidadãos, e, em especial, ao gênero feminino. Na Arábia Saudita a mulher não pode dirigir, não pode sair de casa sem ter vestido uma burca ou uma <i>Niqab </i>– vestimenta que cobre o corpo inteiro -, como também é proibida de circular ou permanecer em locais em que estejam presentes homens. Há uma verdadeira segregação social na Arábia Saudita. O gênero masculino também é alvo de cerceamentos, de imposições do Estado. Um caso recente é o do criador do site “<i>Free Saudi Liberals</i>”, Raif Badawi, que foi condenado a uma sentença de dez anos de cadeia e mil chibatadas. Segundo a corte que determinou a reclusão e o castigo, Badawi vinha constantemente “desrespeitando o islamismo” ao publicar artigos que criticam o conservadorismo saudita. No Irã, temos o exemplo da jovem Malala, e, mais recentemente, o caso de outra jovem que foi detida por ter assistido a uma partida de vôlei e que teve grande repercussão internacional. Um abuso de poder!</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>O Brasil é um Estado Laico, de acordo com o artigo 19 da nossa constituição. Você acredita que na prática o Estado se mantém isento da influência da religião?</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">De forma alguma. O Brasil, assim como os Estados Unidos, ainda é pautado pela religião, pela influência de líderes religiosos. Ainda não conhecemos – apesar do estabelecido no artigo 19 de nossa constituição – o que é ser um Estado laico em sua plenitude. A Igreja Católica ainda mantém parte de sua influência no governo federal, caracterizada pela segunda concordata entre o Brasil e o Vaticano, assinada à época do governo progressista do presidente Luíz Inácio Lula da Silva, que, por meio do Decreto nº 7107, concedeu isenção tributária a organizações católicas, reconheceu a importância da contribuição católica no ensino e estabeleceu o estatuto jurídico da Igreja Católica. Passados quase 125 anos da promulgação da constituição de 1891, a Igreja Católica mantém sua presença na estrutura do Estado, em algumas repartições públicas, como cemitérios, hospitais, cartórios, câmaras, assembleias legislativas e fóruns. Em cemitérios, padres realizam missas, atendem familiares durante velórios, acompanham autoridades. Capelas no alto de cemitérios também marcam a presença da Igreja, de sua influência na estrutura local. Hospitais públicos reservam espaços exclusivos para fieis católicos, com imagens de santos e altar. Não há laicidade.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>Países como a Arábia Saudita, Afeganistão e o Vaticano adotam regimes teocráticos. Você acredita que essa ligação declarada da religião na política, prejudica suas decisões governamentais?</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Como comentamos brevemente acima, os regimes teocráticos – a exemplo dos países islâmicos – são representativos no sentido de que podemos compreender os males da associação entre um Estado e uma Religião. Quando um Estado passa a exigir que seus cidadãos se comportem de acordo com a religião dominante ou estatal, fere princípios democráticos, de direitos humanos reconhecidos internacionalmente. Direitos como o de ir e vir, de livre expressão intelectual, cultural e religiosa é severamente prejudicado em países de regime teocrático. Ao mesmo tempo, temos de reconhecer que há uma grande dificuldade – falo com referência aos países e governos orientais – de separação ou entendimento das distinções entre o Estado e a Religião. A religião é parte da história, da vivência cultural e tradicional desses povos; no entanto, é inadmíssivel que direitos fundamentais do homem sejam colocados de lado em detrimento da tradição religiosa. A Índia é um exemplo dos males da divisão da sociedade em castas, da segregação social dos indianos. Com relação ao Vaticano, a atuação do Papa Francisco tem sido positiva no sentido de que tem contribuído com o diálogo inter-religioso. Francisco possui uma visão social diferente de seu antecessor Bento XVI, mas também é fruto das discussões estabelecidas pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) e pelo papa João Paulo II. </span><br />
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>No Brasil, dos 12 feriados nacionais, 6 são religiosos ligados ao catolicismo. Deveria haver feriados religiosos?</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Diante da atual conjuntura e diversidade religiosa brasileira é impossível falarmos em “feriados religiosos”. Não somente no Brasil como também em Portugal tramitam projetos de eliminação dos feriados confessionais. A influência de políticos conservadores, com relação denominacional dificulta a agilidade das discussões. Há interesses eleitorais, de manutenção de suas bases, o que acaba perpetuando um erro que deveria ter sido discutido pela Constituinte de 1988. Os defensores da permanência dos feriados religiosos recorrem ao critério da representatividade, ao índice que mostra que o catolicismo romano é predominante. Seria possível usar tal critério em países como Polônia, onde mais de 90% da população é católica; no entanto, é impossível aplicar semelhante critério em países seculares como Bélgica e Estônia. O grande número de feriados – que inclusive coloca o Brasil na sétima colocação no ranking mundial – é, também, um entrave ao desenvolvimento produtivo e econômico. Só para critério de comparação, os EUA – país que possui o maior número de protestantes do mundo, com quase 163 milhões de fieis – o único feriado que pode ser associado a uma fígura evangélica é o <i>Martin Luther King Day</i>, celebrado na terceira semana de janeiro. Há outros feriados, como o Dia de São Valentim, mas quase não há feriados nos EUA, razão pela a qual é um país desenvolvido. </span><br />
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">________________________</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">*é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-74735413481286840572014-06-06T18:18:00.004-07:002016-07-10T16:16:05.223-07:00Protestantismo e Sustentabilidade<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Estabelecido em 1972 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, o Dia Mundial do Meio Ambiente completa hoje (5) quarenta e dois anos de celebração. Impactos ambientais causados pelo aumento da devastação de florestas e emissão de dióxido de carbono colocou a comunidade científica internacional em estado de alerta. De acordo com um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), divulgado em março de 2014, o “impacto do aquecimento global será grave, abrangente e irreversível”. </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Baseado em mais de 12 mil pesquisas publicadas em meios de comunicação científicos, o relatório do IPCC prevê mudanças dramáticas. Sintetizando os impactos decorrentes do aquecimento global, o diretor do IPCC e cientista indiano Rajendra Pachauri, declarou, por ocasião da divulgação do segundo de uma série de relatórios a serem publicados em 2014, que “ninguém neste planeta ficará imune aos impactos das mudanças climáticas”. Dos impactos previstos pelo relatório estão o aumento de 2 Graus Celsius da temperatura entre 20 e 30 anos, desgelo do Polo Ártico, perdas de mais de 25% nas colheitas de milho, arroz e trigo até 2050, e enchentes devastadoras.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Disputas pela hegemonia econômica internacional motivam a divulgação de estudos “científicos” contrários ao aquecimento global. Don Easterbrook, professor emérito de Geologia Glacial da Western Washington University, nos EUA, é um dos que contestam que a presença de dióxido de carbono na atmosfera possua relação com o aquecimento global. Apesar de negativas de alguns cientistas de renome internacional, países como Inglaterra e China desenvolvem programas ambientais responsáveis apesar de divergências políticas. Diante da ameça da poluição causada por fábricas e automóveis, o governo da Inglaterra recentemente anunciou uma meta de diminuição da emissão de CO2 e a China planta milhões de árvores em uma zona deserta de Pequim.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>Fé e sustentabilidade</b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Não obstante divergências quanto ao impacto da intervenção humana no planeta, o desmatamento de florestas – como da Amazônia -, e o aumento de emissão de CO2 afetam diretamente a humanidade de várias formas, com prejuízos físicos e econômicos incontestáveis. Em meio a debates e campanhas internacionais, evangélicos de denominações históricas começam a se posicionar frente ao desafio. Primeira igreja evangélica fundada Pós-Reforma Protestante, a Igreja Luterana inaugurou, em outubro de 2013, em Porto Alegre/RS, o Instituto Sustentabilidade. Três anos antes, a Igreja Evangélica Luterana do Brasil realizou, em Foz do Iguaçu, o 42º Congresso Nacional da Juventude Evangélica Luterana do Brasil (JELB), quando foram desenvolvidas oficinas de sustentabilidade e responsabilidade ambiental, em parceria com a Itaipu Binacional.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Com o objetivo de orientar os membros, a Igreja Metodista da Terceira Região Eclesiástica de São Paulo lançou, por ocasião da Celebração Regional do Coração Aquecido, em junho de 2013, a cartilha “Ser Cristão é ser Sustentável”. Segundo a Câmara de Ação Social – departamento da Igreja responsável pelo desenvolvimento de políticas sociais -, o objetivo da cartilha é conscientizar a todos e a todas sobre a importância de se valorizar as questões de sustentabilidade. “Uma igreja que não olha para fora de si está fadada a afundar em seus próprios problemas. A preocupação com o meio ambiente deve ser de todos e de todas”, declarou o pastor e responsável pelo departamento social da Igreja, Renato Saidel Coelho. Dois anos antes, a Igreja Evangélica Congregacional de Bessa, em João Pessoa, Paraíba, mesclou, em um evangelismo realizado na orla da capital, pregação de textos bíblicos baseados em temas ambientais, de sustentabilidade.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Outro exemplo de preocupação com o meio ambiente provém da capital paulista. Ancorada no centro de São Paulo, a Igreja Batista da Liberdade promove campanhas de sustentabilidade através de seu braço social, o Ministério de Sustentabilidade Socioambiental, a Ecoliber. Organizada em agosto de 2008 pelo pastor Eli Fernandes de Oliveira, a Ecoliber teve como primeiros membros o físico e professor Oswaldo Massambani, Guenther Carlos Krieger Filho, Priscila Slobodticov e a esposa do professor. Atualmente com dez participantes, o ministério trabalha com coleta seletiva e destinação adequada do lixo produzido pela Igreja e palestras sobre sustentabilidade.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Fundada em 30/4/1909, a Igreja Batista da Liberdade é uma denominação histórica contextualizada nos desafios da atualidade, de Sustentabilidade. A IBL é um marco e um ponto de apoio em uma área de intensas atividades comerciais, econômicas, empresariais, características do centro da maior cidade da América Latina, São Paulo. O documento Our Common Future (Nosso Futuro Comum), também conhecido como Relatório de Brundtland, apresentou o termo Sustentabilidade e o definiu como o processo de desenvolvimento capaz de satisfazer as necessidades presentes, publicado em 1987, e é citado pela IBL como um elemento propulsor ao desafio ambiental. “A partir daí a Sustentabilidade se tornou algo presente, pelo menos na pauta de discussão de empresas, organizações, escolas, veículos de comunicação e até nas igrejas. Pois além de envolver as atividades produtivas, engloba o cuidado com o meio ambiente e com a sociedade – tripé base da sustentabilidade (econômico, social e ambiental)”, aponta a IBL na página oficial da Ecoliber.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Presente em 19 países, a ONG A Rocha atua no Brasil a partir de um escritório localizado na Avenida Pedro Bueno, 1831, Parque Jabaquara, São Paulo/SP. Fundada no início de 2001 por Peter e Miranda Herris, em Portugal, A Rocha surgiu a partir da publicação e repercussão do livro “A Rocha – Uma comunidade evangélica lutando pela conservação do meio ambiente”, de autoria de Peter Herris. Britânico radicado em Portugal desde 1983, o casal de ministros do Evangelho trabalha com o conceito de fé e sustentabilidade por meio de projetos ambientais em parceria com igrejas e organizações missionárias. De Portugal o movimento foi estabelecido na França, de onde alcançou outros dezessete países. No dia 18 de março de 2006, segundo o site oficial da Organização, uma assembléia realizada em São Paulo oficializou A Rocha Brasil como ONG brasileira (Organização Não-Governamental). No mesmo ano, A Rocha Brasil, juntamente com outras organizações, realizou no mês de novembro o primeiro Fórum Missão Integral: Ecologia e Sociedade em Araçariguama.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O tema meio ambiente possui pouca ressonância em igrejas pentecostais, com algumas exceções. Por ocasião de uma assembleia de líderes da Igreja O Brasil para Cristo, realizada em março de 2011, em Campinas/SP, o Deputado Federal Roberto de Lucena (PV) apresentou aos coordenadores da Juventude da Igreja O Brasil para Cristo (JUBRAC) o projeto ambiental Aceno Verde. Acompanhado pelo líder da JUBRAC do Estado de São Paulo, o presbítero Luís Donizetti Vaz Junior, plantou uma muda de Pau-Brasil no Hotel Fazenda Solar das Andorinhas, tombada como Patrimônio Histórico pelo CONDEPACC (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas), segundo informações do site do parlamentar. Maior expressão do ambientalismo evangélico brasileiro, a vice na chapa do presidenciável pernambucano Eduardo Campos, a acriana Marina Silva, é ligada a Igreja Assembleia de Deus e atualmente comanda o projeto Rede Sustentabilidade.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>Conservadorismo x Sustentabilidade </b></span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Contrários à participação de cristãos em movimentos ambientais, de defesa do meio ambiente, de um modo sustentável de vida, líderes, pastores, ciberativistas, chamam a atenção para o fato de que a Terra será destruída por Deus, subtendendo-se que a entrada de protestantes históricos em projetos de sustentabilidade é um erro. Em maio de 2013 o pastor estadunidense Mark Driscoll declarou, durante uma conferência realizada em Dallas, “que os cristãos não devem se preocupar com o meio ambiente ou com o aquecimento global porque Jesus estaria prestes a arrebatar a Igreja”. A declaração contraria uma ampla maioria de pastores e intelectuais cristãos que acreditam na importância de a Igreja se posicionar em questões ambientais pelo o fato de que a consequência da intervenção do homem na natureza já é uma realidade no século XXI, em nossa geração.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Um ano antes às declarações de Mark Driscoll, o professor de Ciência Ambiental de uma universidade cristã do sul da Califórnia, Mark McReynolds, relatou ao The Christian Post que o envolvimento de evangélicos com políticas ambientais aumentava prodigiosamente nos EUA e em outros países. McReynolds reafirma a aproximação tomando como base o chamado de Lausanne. “Fomos incentivados por mais de 4.000 líderes evangélicos, de 200 países, que participaram do congresso realizado na Cidade do Cabo, em 2010. Lausanne III, o Congresso Internacional sobre Evangelização Mundial reafirmou em sua Confissão de Fé que temos a obrigação como igreja de cuidar da criação de Deus”. Na Parte I, item 7, letra A, do Pacto de Laussane III, registra-se o compromisso assumido com a preservação da criação de Deus, a natureza. (Leia <a href="http://www.lausanne.org/pt/pt/1661-compromisso-da-cidade-do-cabo.html" target="_blank">aqui</a>).</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Atribuindo aos cristãos a responsabilidade ambiental, em 2009 a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) publicou a “EcoBíblia” ou “Bíblia Verde”, obra produzida em parceria com o Instituto Gêneses 1.28, uma ONG Ambientalista Cristã Evangélica. Em cerimônia de lançamento em Brasília e que contou com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o diretor executivo do Instituto Gêneses 1.28 declarou: “Não temos qualquer pretensão de acrescentar absolutamente nada à Bíblia Sagrada. Queremos apenas mostrar e ajudar as pessoas a entenderem sua perfeição, que trata de forma muito clara e explícita da consciência e de nossas responsabilidades sobre a Criação de Deus”.</span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O fundador da Ecoliber, Eli Fernandes de Oliveira, expressa que “a igreja precisa estar consciente e sensibilizada em relação às questões globais que afetam a preservação da Criação. Além disso, como ensina os princípios bíblicos, é dever de cada cristão praticar a Mordomia Socioambiental”. Na Cartilha “Ser Cristão é ser Sustentável”, Renato Saidel Coelho conclui de forma clara: “cabe a cada um fazer sua parte para que o mundo que conhecemos permaneça por muitas e muitas gerações o mais intacto possível evitando, assim, que muito do que hoje existe não se transforme em peça de museu ou extinto da face da Terra por falta de uma preocupação com o que nos cerca”. Ponto!</span><br />
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">________________________</span><br />
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão</span><br />
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><b>Contato:</b> pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
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<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-13826584143054116812014-05-24T13:20:00.000-07:002013-12-28T11:53:36.984-08:00<div>
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<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/as-raizes-do-neopentecostalismo.html">As raízes do neopentecostalismo brasileiro </a></span></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/07/mormonismo-avanca-no-brasil.html">Mormonismo avança no Brasil</a></span></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/07/a-ccb-em-crise-escandalos-dividem-fieis.html">A CCB em crise</a></span></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/07/bbc-brasil-apresenta-numeros-incertos.html">BBC Brasil apresenta números incertos com relação ao crescimento das igrejas inclusivas</a></span></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2012/03/e-evangelica-igreja-sinos-de-belem.html">É evangélica a Igreja Sinos de Belém?</a></span></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/nos-embalos-do-ceu.html">Nos embalos do céu</a></span></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/07/a-igreja-invisivel.html">A Igreja Invisível </a></span></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/a-necessidade-de-um-estado-laico.html">A necessidade de um estado laico</a></span></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/a-igreja-universal-e-seu-plano-de.html">A Igreja Universal e seu plano de domínio do Brasil</a></span></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/o-fenomeno-dos-padres-popstars-uma.html">O fenômeno dos padres-popstars: uma breve análise</a></span></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/catedral-mundial-dos-orixas-realiza.html">Catedral Mundial dos Orixás realiza reuniões inspiradas no neopentecostalismo</a></span></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/igrejas-baseiam-crescimento-na-imagem.html">Igrejas baseiam crescimento na imagem de fundadores</a></span></li>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/10/blog-post.html">+Análises</a></b></span><br />
<br />Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-15835944052621080282014-05-19T19:01:00.003-07:002015-09-06T11:15:41.914-07:00Religião e desempenho escolar <span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Como resultado de uma rodada de entrevistas com alunos de três escolas do ABCD paulista, realizada entre os meses de outubro de 2013 e abril de 2014, reproduzimos parte de uma realidade nacional – de polarização religiosa entre católicos e evangélicos e do crescente número de pessoas que afirmam “não possuir qualquer religião”. Ao mesmo tempo, comprovamos a informação de que a prática religiosa seguida de uma base familiar sólida são fatores que influenciam no desempenho escolar. Os entrevistados, entre 16 e 18 anos, apresentaram informações semelhantes aos coletados por um grupo de pesquisadores do Rio Grande do Sul. Na análise <i>“A influência da religião no desempenho de escolares provenientes de uma comunidade vulnerável de Santa Maria, RS” </i>(2012), os pesquisadores demonstram a relação entre religião e desempenho escolar. Nina Meneses Cunha, em sua tese de pós-graduação <i>“Religiosidade e desempenho escolar: o caso de jovens brasileiros da região metropolitana de Belo Horizonte”</i> (2012) também chegou a conclusões semelhantes.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Comparada à densidade demográfica brasileira com os números apresentados pelo Novo Mapa das Religiões (resultados obtidos pelo IBGE) observamos que a polarização católico-evangélica se reproduz em diversos seguimentos da sociedade, mas particularmente em zonas de classe baixa, nas periferias. Quanto mais afastada está do centro econômico/comercial, a periferia tende a apresentar elementos em comum: presença de aparelhos públicos (como unidades de saúde e escolas) e igrejas católicas e evangélicas. Há de se destacar que paróquias e igrejas neopentecostais geralmente situam-se nas grandes vias de acesso aos bairros, enquanto as pentecostais situam-se no interior dos bairros que compõem a periferia. Neste contexto, as declarações de pertencimento religioso ocorrem em consonância com a disposição espacial/geográfica das denominações religiosas presentes nas imediações. Mas além de denominações católicas e evangélicas (pentecostais e neopentecostais), religiões de origem norte-americana também ganham campo, a exemplo das Testemunhas de Jeová e a Igreja Adventista do Sétimo Dia. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Condições financeiras, de capacidade de locomoção, servem de base para o entendimento do pequeno número de entrevistados que declaram pertencer a igrejas protestantes históricas e a comunidades evangélicas como a Bola de Neve e a Comunidade Casarão. Presente na área central, as referidas denominações normalmente apresentam em seus quadros membros das classes a e b, e uma pequena presença de pessoas da classe c. São denominações de caráter elitista, não por um posicionamento discriminatório, mas pelas características históricas, litúrgicas, de aprofundamento teológico, que não atrai camadas mais inferiores da sociedade. As igrejas pentecostais, dirigidas por pastores com pouca formação teológica e secular, os cultos abertos ao testemunho e participação da membrasia, somado a proximidade com a residência dos membros, são elementos que pesam na opção pelas igrejas pentecostais. Neste contexto, a dinâmica religiosa regional aparece em dados obtidos em sondagens com alunos de escolas públicas, localizadas nas imediações.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Números levantados e tabulados a partir das entrevistas com alunos de três escolas do ABCD paulista, exemplificam a polarização católico-evangélica dimensionada nos entornos das instituições, nas periferias. Pelo menos nas escolas pesquisadas, o número de alunos que se declaram “católicos” (39%) é inferior aos que se declaram “evangélicos” (44%). Tal diferenciação se explica pela localização geográfica, da periferia, onde igrejas pentecostais (particularmente Assembleia de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Pentecostal Deus é Amor, Casa da Benção) são maioria em comparação ao número de igrejas católicas, localizadas nas vias de acesso aos bairros. Outro dado interessante e que aparece em consonância com recentes levantamentos feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o grande número de alunos que declaram “não possuir qualquer religião” (12%). Outros 5% são compostos por testemunhas de Jeová (2%) e espíritas (3%). O número de alunos que declaram pertencer ou não a uma religião é, como demonstrado acima, um reflexo da dinâmica social, da realidade nacional, já abordada pelo IBGE. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Cruzando os números obtidos com o desempenho escolar, questões socioeconômicas, capacidade educativa dos pais, disciplina da religião pertencente, valores sociais inerentes à prática religiosa são elementos que aparecem como fatores da diversidade de resultados obtidos. Dos que se declaram evangélicos (44%), pelo menos 25% possuem dificuldade de assimilação das disciplinas, por fatores que passam pela situação socioeconômica e ausência de apoio intelectual dos pais – a maioria dos quais se quer cursou o ensino fundamental. A localização geográfica, a característica da periferia, da ausência dos pais em casa, devido ao trabalho, são elementos que pesam na capacidade de desempenho dos entrevistados. Realidade não muito diferente ocorre entre os que se declaram “católicos”. Dos 39%, pelo menos 29% também possuem dificuldade na assimilação das disciplinas. Apesar dos números desfavoráveis, tanto católicos quanto evangélicos se destacam no quesito disciplina – da capacidade de acatar ordens, de respeito para com professores.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Outro fato importante a se destacar – com referência a evangélicos – é que há um maior índice dos que declaram possuir o “hábito de leitura”. O motivo, segundo depoimentos, é que a leitura da Bíblia, de livros evangélicos, os conduz a outras leituras, embora não necessariamente acadêmicas, educativas. No universo católico o acesso a textos bíblicos e estudos relacionados é inferior ao verificado no evangélico – com exceção dos que se declaram “carismáticos” (12%), pelo o fato de possuírem maior acesso a livros de autoria católica e também evangélica. Dos que se declaram “testemunhas de Jeová” há um maior índice de desempenho escolar, de leitura e disciplina, devido à doutrinação a que são submetidos nos Salões do Reino, embora o incentivo ao ingresso na universidade seja inferior ao verificado entre evangélicos e católicos. Dos que se declaram “espíritas”, há semelhanças ao verificado entre evangélicos e católicos – particularmente com relação ao acesso a leitura e disciplina. São dados relevantes do ponto de vista sociológico.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em resumo, pode se concluir que entre os que professam uma crença religiosa há uma maior disposição de busca do saber (apesar de dificuldades externas) em relação aos que declaram “não possuir qualquer religião”. A ausência de disposição aos estudos, à prática escolar, não necessariamente significa ausência de disciplina, de respeito em sala de aula, e mesmo aos que “professam uma crença”. Dos que não possuem qualquer religião, pelo menos 7% declaram respeitar os que optam pela via religiosa. São dados igualmente relevantes. De uma forma geral, e aproveitando uma das conclusões obtidas pelos pesquisadores do RGS, a religiosidade exerce influência no comportamento escolar, especialmente em relação à observância às normas sociais e da instituição de ensino onde estudam. “Os resultados evidenciaram que alunos que seguem alguma opção religiosa apresentam maior disposição em estudar em casa, talvez pela disciplina imposta pelos próprios pais. Entre os que responderam não levar em consideração a igreja, o percentual de alunos que não estudam em casa foi significativamente maior do que os demais grupos. Tal constatação indica que a religião possui influência no comportamento dos alunos, principalmente, no que diz respeito à disposição e estímulo para estudar e, consequentemente, na aprovação e/ou reprovação escolar” (p.159). </span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">________________________</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contato:</b> pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
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Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-76169186828148074162014-04-25T04:43:00.003-07:002015-09-06T11:15:53.280-07:00O Estado Brasileiro é estruturalmente católico <span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Apesar de oficialmente “laico” – fato que se deu com a Constituição de 1891 -, o Estado Brasileiro ainda é estruturalmente católico. Por três séculos “religião oficial”, o Catolicismo perdeu parte de sua influência com a Proclamação da República, em 1889; no entanto, passados quase 125 anos, mantem sua presença na estrutura do Estado, em algumas repartições públicas, como cemitérios, hospitais, cartórios, câmaras, assembleias legislativas, fóruns. Mesmo símbolo universal do cristianismo, a cruz ainda é um elemento associado à Igreja Católica. Em cemitérios, padres realizam missas, atendem familiares durante velórios, acompanham autoridades. Capelas no alto de cemitérios também marcam a presença da Igreja, de sua influência na estrutura local. Hospitais públicos reservam espaços exclusivos para fieis católicos, com imagens de santos e altar.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Na verdade, a influência do Catolicismo sobre o Estado nunca deixou de existir, não obstante a separação entre a Igreja e o Poder Público, em 1891. Durante o começo do século XX articuladores católicos conduziram uma reaproximação com o Governo. Em 1930, com a ascensão de Getúlio Vargas à Presidência, uma nova relação foi estabelecida. Quatro anos depois, a terceira Constituição deu ao Catolicismo maior liberdade de circulação pelas repartições públicas, pelo sistema de ensino. Segundo o CPDOC (FGV), durante o período que vai de novembro de 1930 a julho de 1934, o “país viveu sob a égide da Assembleia Nacional Constituinte que foi encarregada de elaborar a nova Constituição brasileira que iria substituir a de 1891 [...] Para a Igreja Católica, o momento era de afirmação e de maior intervenção na vida política do país”, aponta o estudo.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Vieira de Souza, em <i>Círculos Operários e a invenção da Igreja Católica no mundo do trabalho no Brasil: uma discussão historiográfica</i> (UFRJ, 29/4/2007), destaca que “com Getúlio Vargas, a Igreja retomou alguns dos mais importantes espaços perdidos com o advento da República. (…) Neste período, a Igreja, através de suas lideranças, adotou posições que reforçaram a intervenção estatal através de um governo forte apoiado na ação e na formação de um consenso. Até 1943, a relação entre os dois poderes aqui comentados inseriu-se nesta perspectiva. O clero se posicionou como coadjuvante de uma política que buscava a harmonia social; sua ação entre os assalariados urbanos era centrada na questão da regulamentação das relações trabalhistas (…) em uma organização corporativa e das instâncias hierárquicas necessárias a intervenções culturais”.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Terminada a Era Vargas, a Igreja manteve sua influência sobre o Estado, e o teste final se deu em 1964. O crescimento do movimento evangélico brasileiro, o baixo número de seminaristas, associado às mudanças estruturais decorrentes da gestão de JK, levou, nos anos anteriores ao Golpe, o País a uma nova realidade social, dimensional. A credibilidade da Igreja, e mesmo a sua existência estavam em jogo, naquele período. Era preciso encontrar um caminho, uma forma de prevenção contra “ameaças externas”, e as igrejas evangélicas já eram vistas pela recém-formada Comissão Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB, 14/10/1952), como uma das “ameaças” à sua hegemonia. Neste sentido, a Igreja apoiou a derrubada do presidente constitucional, João Goulart, ao colocar a “máquina em funcionamento”. O pequeno clero se mostrou resistente, mas não conseguiu superar as autoridades mais influentes, que conduziam os rumos da Igreja.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Algo recorrente na História é o uso de “ameaças”, de “bodes”, de “comedores de criança” com o intuito de se justificar a manutenção de privilégios, do poder econômico. Foi assim durante a Idade Média, quando a Igreja acusou e perseguiu diversos grupos opositores, acusando-os de “adoradores de Baal”, de “pactuarem com o inimigo”. No achamento de Pindorama (Brasil, a partir de 1503), a ideia de “cristianizar” os aborígenes pagãos, de transmitir aspectos “civilizatórios”, norteou os primeiros 322 anos da colonização das terras outrora pertencente aos caiapós, xavantes, tupi-guaranis, yanomames etc. O paganismo dos nativos teria de ser substituído pelo cristianismo dos escravocratas brancos, europeus, e coube à Companhia de Jesus cristianizar os nativos. Na segunda metade do século XX, foi desenvolvida uma campanha contra evangélicos e movimentos de defesa dos pobres, do homem do campo, dos explorados pelo sistema capitalista.</span><br />
<br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">No auge da ditadura militar, investimentos nas Organizações Globo tiveram um duplo propósito: promover interesses nacionais, oligárquicos, e a “defesa (nas palavras de Roberto Marinho) do cristianismo”. Redemocratizado, o Brasil passou a ser palco do surgimento e crescimento de inúmeras igrejas evangélicas, das mais variadas denominações, das “três fases do pentecostalismo” (Paul Freston), em uma ameaça à hegemonia da Igreja Católica. Caricaturas em novelas, séries, denúncias em reportagens, traçaram um perfil distorcido do movimento evangélico brasileiro, de um grupo constituído por fanáticos, estelionatários, oportunistas. Somente após a morte do jornalista Roberto Marinho (2003) e a divulgação do Novo Mapa Religioso (que aponta o número de 42,5 milhões de evangélicos) teve início uma abertura à igreja evangélica. Houve um rompimento do monopólio católico nas mídias, nos meios de comunicação. Um crescimento inevitável!</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O <i>Acordo Brasil-Vaticano </i>(2009) assegurou ao Catolicismo uma posição privilegiada na estrutura do Estado brasileiro, apesar da crescente influência evangélica. A CNBB não apenas é vista como um órgão representativo da Igreja, mas como uma espécie de “braço consultivo do Governo”, que fala em pé de igualdade com os Três Poderes, que impõe posicionamentos, que interfere em discussões no Legislativo. Houve uma redução da influência, evidentemente, mas estruturalmente a Igreja ainda se mantém no Estado, em suas várias repartições públicas, federativas. Em contrapartida, um número restrito de religiosos, de caráter extremista, passou a adotar medidas ou estratégias outrora utilizadas pelo Catolicismo, com rotulações, influência intelectual, desenvolvimento de “nichos de influência”, de “manobra” com o intuíto de se mesclar ao Estado, à estrutura do Parlamento, em um caminho desvirtuado. Os 514 anos de influência da Igreja Católica sobre o Governo deve servir de exemplo do perigo de uma religião se apropriar do Estado.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">________________________</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-40431097888135823422014-04-09T19:48:00.003-07:002015-09-06T11:16:04.339-07:00Disputa por fieis movimenta importante avenida de Mauá, no ABCD paulista<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Parte de uma análise da presença evangélica no ABCD paulista, Mauá representa um quadro interessante pelo o fato de que possui todos os elementos típicos de um município multirreligioso. Fatores socioeconômicos diferenciam Mauá de outras cidades da Região, como São Caetano do Sul (SCS). Diferente de Mauá, a população de SCS é composta em sua maioria por católicos (76,3%), contra 5% de evangélicos pentecostais. Há poucas igrejas pentecostais e neopentecostais no município, sendo restritas aos bairros periféricos e região central. Mauá, por outro lado, de cidade de maioria católica – pelo menos até 1960 – em pouco tempo passou a ser base de vários segmentos evangélicos. Um trecho situado entre os números 3544 e 4143, da Avenida Barão de Mauá, exemplifica a disputa.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Base dos peregrinos católicos dos bairros adjacentes, a Paróquia (matriz) São João Batista (PSJB) aos poucos viu sua influência e monopólio regional ser desafiado pelo estabelecimento de igrejas pentecostais e neopentecostais em seu em torno, a exemplo de denominações como a Assembleia de Deus Brasileira, Igreja Cristã Jerusalém, Igreja Batista Água Viva, Comunidade Evangélica Vaso Novo, Internacional da Graça de Deus, Universal do Reino de Deus, e, desde o começo de 2014, a PSJB viu chegar às suas portas a Igreja Mundial do Poder de Deus. Instalada em um amplo galpão, a IMPD passou a disputar palmo a palmo os moradores da Região, antes de maioria católica. Dirigida por um padre venezuelano, há alguns anos a PSJB aderiu ao movimento carismático, substituindo a missa tradicional por cerimônias “participativas", segundo o modelo. </span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Além da adesão ao movimento carismático, a PSJB passou a investir em encontros de jovens – semelhante às igrejas em células -, abertura de núcleos de evangelismo e catequese, ampliação de comunidades e, destoando de todas as igrejas católicas (âncoras) da cidade, passou a investir em sistemas de marketing, principalmente com a instalação de um painel sobre a entrada principal, que diariamente anuncia horários das missas, veicula trechos de preces etc. Ao todo existem sete capelas submetidas diretamente à PSJB, situadas em bairros próximos, como Jardim Itapeva, Esperança, Adelina, Feital, Hèlida e Sítio Boa Vista. Apesar das iniciativas, a paróquia perde cada vez mais adeptos para igrejas evangélicas situadas no eixo Barão de Mauá, além de ter de rivalizar com inúmeras outras denominações presentes no interior dos bairros, sendo as Assembleias de Deus as de maior predominância na área, seguida pela Congregação Cristã no Brasil.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O trecho que compreende os números 3544 e 4143, da Avenida Barão de Mauá, representa apenas parte da realidade municipal, de avanço de denominações evangélicas. Prova da superioridade numérica, há vinte e quatro igrejas evangélicas em toda a extensão da avenida – sendo quatro igrejas batistas, uma presbiteriana, três ADs, uma CCB, duas IPDAs, cinco comunidades, uma Igreja Bola de Neve, duas IURDs, duas IIGDs e duas IMPDs – contra apenas duas igrejas católicas, sendo a primeira localizada no centro – Paróquia São Judas – de menor expressão, e a Paróquia São João Batista. De acordo com o Censo 2010 do IBGE, há 210.078 católicos no município (51,33%), contra 132.638 (31,80%) de evangélicos. O número de católicos praticantes é inferior ao número de evangélicos praticantes, sendo uma realidade do Grande ABCD e de todo o País.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">________________________</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contato:</b> pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-28526619931735992092014-04-04T10:34:00.002-07:002015-09-06T11:16:20.312-07:00A Invenção das Asas e o Cristianismo Brasileiro<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b><br /><br /> Escrito pela norte-americana Sue Monk Kidd, o livro <i>A Invenção das Asas</i> relata a história de uma jovem que, em meio a uma sociedade escravocrata, passou a defender o Abolicionismo e o fim dos maus tratos à mulher. A história, investigada por Kidd durante dois anos, se passa em 1803, em Charleston, Carolina do Sul, nos EUA. Neste ano, a pequena Sarah Grimké recebe de presente uma servente negra, chamada Hetty. Ambas tinham onze anos. Grimké, que desde os quatro anos de idade manifestava repudio a injustiça praticada contra negras, viu uma oportunidade de contextualizar sua aversão. Ao invés de escrava, Hetty passou a ser tratada como irmã, alguém da família. Foram trinta e cinco anos de convivência.<br /><br />Sarah Grimké, ao desafiar sua própria família escravocrata, comum no sul dos Estados Unidos, entrou para a história como a “primeira abolicionista feminina dos EUA”. Escreveu panfletos em conjunto com sua irmã, Angelina, através dos quais condenava duramente à escravidão. Cento e cinquenta anos depois da abolição da escravidão nos EUA, ainda há resquícios do racismo predominante na época de Grimké. Sue Monk Kidd, branca, que mora na cidade de Marco Island, na Flórida, nos EUA, relata que cresceu em meio a um sul racista, de pré-direitos civis, e que demorou a erguer sua voz contra o racismo. “A opressão ainda é um fenômeno mais ou menos naturalizado nas sociedades ocidentais com histórico escravista”, pontua a escritora e sulista Sue Monk Kidd.<br /><br />Que mentalidade predominava no Sul dos Estados Unidos, na primeira metade do século XIX? Historicamente favorável à escravidão, os sulistas eram em sua maioria cristãos protestantes, oriundos de famílias que imigraram da Europa para trabalhar na Costa Leste dos EUA. Segundo Hernâni Francisco da Silva, em <i>O Protestantismo e a escravidão no Brasil</i>, o “fundamentalismo das denominações protestantes dos EUA se transformou em terreno fértil para justificativas da escravidão, que buscavam embasamento doutrinário para apaziguar a consciência dos escravocratas do sul. Citando a história de Noé, identificavam a maldição de Cam, por ter surpreendido o patriarca nu e embriagado, como a maldição dos negros”. Interesses conflitantes.<br /><br />No Brasil, segundo Silva, grupos protestantes do Sul dos EUA trouxeram ao País sua mensagem e concepção branca do Evangelho. “Os principais agentes da imigração norte-americana para o Brasil foram pastores protestantes do Sul dos EUA, a exemplo do Rev. B. Dunn, que via no Brasil uma nova Canaã, a terra prometida onde os confederados derrotados na Guerra de Secessão poderiam reconstruir suas vidas, seus lares e suas propriedades, incluindo a mão-de-obra escrava. Pelo menos cerca de 2000 a 3000 sulistas se deslocaram para São Paulo. O aceno de encontrar terras em abundância com mão-de-obra escrava certamente foi decisivo para que famílias inteiras, acostumadas a um estilo de vida escravista, se deslocassem do Sul dos EUA para o sudeste brasileiro [...] De uma maneira geral os protestantes no Brasil só tomaram uma posição contra a escravidão quando a abolição já era unanimidade”, pontua Hernâni Francisco da Silva.<br /><br />Alcides Gussi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), contraria alguns historiadores ao declarar que apenas quatro famílias protestantes possuíam um total de 66 escravos entre1868 e 1875. Hélio de Oliveira, em <i>A Igreja Presbiteriana do Brasil e a Escravidão</i> (Universidade Mackenzie), declara que, embora tímida, “a participação dos presbiterianos no processo abolicionista brasileiro foi construtiva e a mais expressiva dentre todas as denominações protestantes em processo de implantação no país no período de 1870 e 1888”. Oliveira pontua: “a prioridade das missões presbiterianas instaladas no Brasil a partir de 1859 era o estabelecimento e o desenvolvimento da sua obra missionária. Temia-se que o envolvimento precoce com a questão abolicionista poderia colocar em risco o processo de implantação da igreja, uma vez que o catolicismo era a religião majoritária e detinha inquestionável influência política”.<br /><br />O envolvimento de protestantes com a escravidão ocorreu de forma diferenciada, nem sempre compatível com o que alguns historiadores pontuam, como se subtende das declarações de Hélio de Oliveira e Alcides Gussi. Oliveira, citando Júlio Andrade e Émile Léonard, chega a declarar que dos onze prosélitos que a comunidade presbiteriana de São Paulo recebeu em 1879, havia cinco escravos. “… [eles] também forneciam às igrejas bom número de membros. Sobre onze prosélitos que a comunidade presbiteriana de São Paulo recebeu em 1879, contavam-se cinco escravos. Tratava-se, o mais das vezes, de criados domésticos que adotavam a religião de sua patroa; mas outras vezes de escolha inteiramente livre, que era objeto de longas oposições; é assim que uma das negras de 1789, Felismena, precisou esperar quatro anos a permissão de seu senhor”.<br /><br />De fato houve certa conivência ou resguardo de alguns grupos protestantes oriundos do Sul dos EUA, mas limitava-se a pequenos núcleos familiares, ao uso de escravos em trabalhos do lar, mas de forma diferente da usada por católicos – a exemplo da Ordem de São Bento que utilizava escravos em uma fazenda no ABC paulista. Do lado protestante havia movimentos localizados, de fundamentalistas, que interpretavam o Evangelho à sua maneira. Eram grupos isolados. Na segunda metade do século XX, mais precisamente em 1964, movimentos liderados por cristãos clamavam por uma resposta à “ameaça comunista”. Denominada de Marcha da Família com Deus pela Liberdade (MFDL), o movimento resultou em mais de vinte anos de opressão militar, privação de direitos, terrorismo e torturas. Reeditada de forma pífia no dia 22 de março, a MFDL reuniu apenas mil manifestantes em São Paulo e foi marcada por exemplos de extremismo religioso, de conivência com as mortes praticadas pelos militares. Igualmente há grupos evangélicos extremistas, localizados, que recorrem a expressões chulas, ao apoio de líderes e movimentos cuja moral é questionável. É um grupo isolado, contrário a maioria. Ponto!<br /><br /> ________________________<br /><br /> * é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)<br /><br /><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-89784740467757430752014-03-20T14:33:00.001-07:002015-09-06T11:16:35.290-07:00O pentecostalismo em processo<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo</b></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O Pentecostalismo passa por um gradual processo de adaptação, de mudanças observadas por pesquisadores como os doutores Paul Freston e Ricardo Mariano. Paul observa que, pelo menos nos primeiros 40 anos de atuação no Brasil, o pentecostalismo (até então clássico) não havia ainda conseguido alcançar não mais do que algumas dezenas de membros em Estados do Norte, Nordeste, Sul e Sudeste. Após os anos 50 há um significativo crescimento a partir de Estados como São Paulo e Rio de Janeiro, mas não sem abrir mão de algumas características anteriores.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A chegada da Igreja do Evangelho Quadrangular (IEQ) à cidade de São João da Boa Vista, no interior de São Paulo, em 1951, e o estabelecimento do Bispo Walter Robert MacAlister, primeiro em São Paulo e depois no Rio de Janeiro, e a consequente fundação da Igreja Cristã de Nova Vida (ICNV), marcam o início do que Paul chama de “segunda onda pentecostal brasileira”. Foram duas as “inovações” trazidas pela IEQ e a ICNV ao cenário evangélico nacional: introdução de uma liturgia diferenciada, menos clássica, e o uso de meios de comunicação. De fato, a chegada das igrejas de origem norte-americana deu um novo impulso ao movimento evangélico brasileiro.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Membros de igrejas pentecostais históricas aderiram às novas denominações, alguns dos quais viriam a compor o quadro de liderança destas novas denominações. Houve uma mudança na configuração nacional, principalmente a partir da introdução de campanhas de cura e libertação que influenciaram na fundação de igrejas como a Pentecostal Deus é Amor (1962), Casa da Benção (1964) e, em 1977, na Igreja Universal. Antes, a Igreja O Brasil para Cristo (1955) já despontava no cenário evangélico brasileiro, com características distintas em relação às Assembleias de Deus.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Demonizado por pentecostais clássicos, o rádio aos poucos passou a ser utilizado por igrejas como O Brasil para Cristo, e mais massivamente pelo ministério de MacAlister. O período também coincide com a chegada da televisão ao Brasil, e com uma consequente “demonização” da tecnologia por parte das igrejas pentecostais clássicas e mesmo pelas novas, como a Igreja Pentecostal Deus é Amor – a última sendo a única do período que ainda mantem uma postura radical em relação ao aparelho, apesar de alguns avanços recentes em relação à internet. No começo dos anos 80 há uma nova configuração decorrente da introdução da Teologia da Prosperidade, por Edir Macedo.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Inicialmente resistente ao modelo importado dos EUA, o pentecostalismo aos poucos iria aderir a aspectos midiáticos, de organização política e pregações baseadas na Confissão Positiva. Novas denominações como a Internacional da Graça de Deus, Renascer em Cristo, Mundial do Poder de Deus, estabeleceriam um novo marco no movimento evangélico, parte da “terceira onda pentecostal”, de acordo com o modelo de Paul. Outro fato importante a se destacar é que, desde os anos 50, São Paulo e Rio de Janeiro se consolidam como celeiros do pentecostalismo.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A base sobre a qual o antigo e o novo pentecostalismo se estabelecem – e que é tema de pesquisas do sociólogo Ricardo Mariano, como em Neopentecostais: sociologia do Novo Pentecostalismo no Brasil (2005) – também iria influenciar no desenvolvimento de novas posturas, menos conservadoras em matéria de usos e costumes, porém enfáticas em questões sociais. O investimento em organizações sociais – inclusive base de análise de Paul em Pentecostalism and Politics – faz parte de um contexto político nacional, tendo como eixo Rio-São Paulo.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ao mesmo tempo em que igrejas pentecostais históricas crescem em cultura e compreensão do contexto social, da distinção entre o Estado e a Igreja, um pequeno grupo segue na contramão de alguns avanços verificados no contexto nacional, e que inclusive é dissecado por Paul no Pentecostalism and Politics. Entretanto, há de destacar que, de um modo geral, a tratativa da igreja em relação à sociedade tem melhorado nos últimos anos, particularmente a partir da compreensão da necessidade de uma maior aproximação com o próximo, no seu trato com suas necessidades. É um avanço, apesar da existência de grupos contrários ao entendimento, mas em fase de extinção.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É justificável a especulação de que, em 2040, os evangélicos representarão 50% do total da população nacional, mas também é passível de projeção que a diversidade religiosa e secular também será uma realidade no período. Concluindo, a igreja evangélica brasileira irá se consolidar como a “maior denominação religiosa do País”, mas com características totalmente diversas das verificadas no passado e mesmo de algumas características atuais. Posturas agressivas não terão mais espaço na realidade de 2040. Ao mesmo tempo, haverá um crescimento intelectual, cultural, também decorrente do nivelamento social das classes C e D que hoje compõem o pentecostalismo.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-16868227683635964482014-03-11T06:59:00.001-07:002015-09-06T11:16:54.222-07:00Mulher: um exemplo de superação<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo</b><br /><br />Diria Hobsbawm, em a <i>Era dos Extremos</i>, que a “maior das revoluções do século XX foi a revolução feminina”. Houve um repensar do papel da mulher na sociedade, a partir do momento em que o Brasil deixa a República Velha, com seus valores rurais restritivos, e caminha ao industrialismo. É nas cidades, nos grandes centros urbanos, que as disparidades entre os gêneros feminino e masculino ganham maior visibilidade. Não está em jogo apenas o direito ao estudo, ao trabalho e ao voto, mas uma emancipação de velhas estruturas machistas, hoje ainda visíveis em declarações polêmicas como as do mitilar Jair Bolsonaro. No entanto, são casos isolados, em fase de extinção na medida em que a sociedade evolui em cultura, conhecimento e compreensão.<br /><br />Nesta semana, em palestra na Universidade Metodista de São Paulo, campi Rudge Ramos, a Dra. Renata Gonçalves (UNIFESP – Baixada Santista) destacou a importância da contribuição da socióloga Heleieth Saffioti (1934-2010) que, em plena ditadura militar, desafiou às estruturas arcaicas do Brasil, típicas do final do século XIX e início do século XX, de submissão do papel da mulher na sociedade urbano-rural. Segundo Saffioti, apenas o alcançar alguns direitos antes restritos ao homem não garante à mulher uma total emancipação; pelo contrário, destaca a importância de se romper com velhas estruturas restritivas, para que se o alcance o pleno direito.<br /><br />Grandes personalidades brasileiras, como Cecília Meirelles, Rachel de Queirós, Clarice Linspector, Olga Benário, Cora Coralina, Thalita Rebouças, Telma Guimarães, Ruth Cardoso, Marina Silva, são exemplos da importância da mulher no processo literário, de defesa dos direitos civis, ou mesmo da valorização do papel feminino enquanto agente social. Obviamente que há, na breve lista de personalidades brasileiras, diferenças ideológicas, de posicionamento político, literário, mas mesmo assim é de se destacar a importância de suas contribuições pelo o fato de que ousaram em meio a uma sociedade classista. Merecem respeito apesar de terem posicionamentos diferenciados.<br /><br />Apesar de avanços na emancipação feminina, ainda há resquícios feudais em grupos religiosos, como o islamismo, o hinduísmo, em movimentos paralelos ao protestantismo, ou mesmo em igrejas pentecostais mais fechadas em relação a outras, que travam o avanço dos direitos femininos, como de livre expressão, de inserção na sociedade de maneira mais ampla, de participação no corpo eclesiástico. A Arábia Saudita é um exemplo de Estado que interfere de forma prejudicial nos direitos fundamentais da mulher. Ao mesmo tempo, outros países, como a Índia e o Japão – apesar de avanços intelectuais e abertura ao Ocidente – ainda não conseguiram solucionar os entraves que impedem uma real valorização da mulher em suas sociedades, em suas culturas.<br /><br />No Brasil, tem se notado um avanço no sentido de que, denominações como as Assembleias de Deus – a segunda mais antiga das pentecostais e de maior número de membros em relação às demais igrejas evangélicas brasileiras – que, nos últimos anos, amadureceu sua compreensão do papel da mulher no ministério, e não somente: de seus direitos enquanto ser humano, detentor de igual capacidade intelectual e de pastoreio. A tendência geral é a de que a mulher conseguirá galgar outras posições na direção nacional de suas denominações. Fundada há 14 anos por Glória Fernandes, em São José do Rio Preto (SP), a Igreja Missão da Fé é um exemplo da capacidade feminina de pastoreio. Nas igrejas neopentecostais – com exceção da IURD – a valorização da mulher enquanto líder também tem crescido de maneira significativa, apesar de alguns porquês!</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /><br />________________________<br /><br />* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)<br /><br /><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
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Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-59997768760656236202014-03-05T17:45:00.001-08:002015-09-06T11:17:07.457-07:00O protestantismo histórico e o processo educacional no Brasil<div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />O protestantismo histórico tem sua marca registrada no Brasil. Não obstante o protestantismo de imigração (Anglicana e Luterana) ter sido trazido ao País para dar assistência religiosa às comunidades inglesa e alemã, e ter se estabelecido no Brasil na primeira metade do século XIX, coube ao protestantismo de conversão dar início a um novo processo educacional a partir de São Paulo. Dois grupos em especial teriam significativa importância no período: o presbiterianismo e o metodismo.<br /><br />Presbiterianos e metodistas trouxeram ao País um novo conceito educacional, em um período em que o ensino (básico e superior) ainda não havia se estabelecido no Brasil de forma definitiva e abrangente. Há uma explicação histórica, anterior a 1808. Enquanto a Espanha investia em suas colônias, com urbanização e investimento em educação – a primeira universidade do continente americano foi inaugurada em 1538, em São Domingos, e em seguida no Peru, em 1551, a Universidade de San Marcos – Portugal não instalou uma única universidade no Brasil colônia.<br /><br />Restrita à Companhia de Jesus, a educação básica teve espaço no Brasil de 1549 a 1759, ano em que são expulsos das colônias portuguesas. Segundo José Luiz de Paiva Bello, em <i>Pedagogia em Foco, História da educação no Brasil</i>, no “momento da expulsão os jesuítas tinham 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus” (1998). Era o cenário educativo de então.<br /><br />Mesmo com a chegada da Família Real, em 1808, a instalação de gráficas, da Biblioteca Nacional com base no Rio de Janeiro, e abertura de uma faculdade de medicina na Bahia, o ensino continuou restrito aos membros da aristocracia portuguesa e nativa. Stella Garrido, em <i>A educação confessional protestante no Brasil</i>, lembra que, apesar da criação do Colégio Pedro II (1837), e o início de um incentivo à educação brasileira, “as escolas secundárias eram precárias e não alcançavam as camadas mais pobres, que constituíam a maioria da população” (2005). A informação é comprovada pelo o fato de que, em 1900, 65% dos brasileiros eram analfabetos.<br /><br /><b>Os protestantes de conversão</b><br /><br />Neste contexto, pontua Garrido, “o aparecimento das primeiras instituições educacionais no Brasil deu-se através de evangelizar e, também, como é o princípio de toda escola, promover o conhecimento”. O surgimento dos primeiros colégios protestantes a partir da segunda metade do século XIX “propiciaram mudanças na pedagogia brasileira que são notórias na atualidade”, conclui.<br /><br />Superior em números absolutos em relação ao metodismo, a Igreja Presbiteriana foi a primeira a instalar uma escola protestante no Brasil. Inaugurada em 1870 pelo missionário George Whitehill Chamberlain e a também missionária Mary Annesley, a Escola América começou a funcionar na sua própria residência, no bairro da Luz, no centro de São Paulo. A revista <i>O Sonho</i> (Mackenzie. Ano1, n.1, 1998), destaca que a nova instituição possuía classes mistas com meninos e meninas e uma nova pedagogia. Em 1876 D. Pedro II visitou a Escola América e elogiou sua metodologia.<br /><br /><b>Universidade Presbiteriana Mackenzie</b><br /><br />A Universidade Presbiteriana Mackenzie deve parte de sua origem ao advogado Jonh Theron Mackenzie que, atraído pela nova metodologia, investiu 42.000 dólares. Em 1877 Shamberlein fundou a faculdade de Filosofia. Nove anos depois o já Colégio Mackenzie disponibiliza os primeiros cursos superiores em áreas como Engenharia e Comércio, sendo a primeira instituição brasileira a disponibilizar o curso, embora descredenciado em 1932. O mestre em Filosofia e doutor em Educação pela UNIMEP de Piracicaba (SP) Almiro Schulz, em o <i>Projeto de Universidade Protestante no Brasil, Educação Superior</i>, lembra que após o descredenciamento o Mackenzie passou por uma crise, mas em 1938 conseguiu reverter a situação, com a obtenção da licença e equiparação. “Daí para frente teve início uma nova fase, principalmente na década de 40, quando novos cursos foram implantados e em 1952 foi fundada e organizada a Universidade Mackenzie”, conclui.<br /><br />Atualmente a Universidade Presbiteriana Mackenzie desponta como uma das principais universidades privadas do País, de ensino confessional, como um marco no coração da cidade de São Paulo e, pelo segundo ano consecutivo, classificou-se como a melhor instituição de ensino não pública do Estado de São Paulo, de acordo com o <i>Ranking Universitário Folha (RUF).</i> Além do curso de Engenharia e Comércio, a APM foi a primeira a criar um programa de estágios na década de 20 e a trazer a cultura do basquete ao Brasil. Também é destaque na área de Humanas e Exatas.<br /><b><br />Universidade Metodista de São Paulo</b><br /><br />A primeira escola metodista no Brasil foi inaugurada em setembro de 1881, na cidade de Piracicaba (SP), pela missionária Martha Hite Watts. Na sequência, surgiu o Colégio Americano de Petrópolis (1895), o Colégio Mineiro (1902) e o Colégio Izabela Hendrix (1904). Entretanto, foi em São Bernardo do Campo, no ABCD paulista, que, em 1938, foi fundada a Faculdade de Teologia da Igreja Metodista. Trinta e dois anos depois surgiu o Instituto Metodista de Ensino Superior (IMES).<br /><br />Hoje o IMES possui três Campi em São Bernardo do Campo (Rudge Ramos, Vergueiro, Planalto). São mais de 117 mil metros quadrados de área total, que inclui 70 espaços, entre laboratórios, agências experimentais e clínicas modernas, além de bibliotecas e anfiteatros espalhados pelos três campi da Universidade (metodista.br). Pela quinta vez consecutiva é a melhor universidade privada do Brasil em Comunicação e Informação. Em setembro de 2010 foi inaugurado o Centro de Memória Metodista que reúne centenas de peças relacionadas à história da comunicação visual e escrita, do campo da educação religiosa, além de peças históricas do final do século XIX e começo do século XX e 300 obras raras publicadas entre o século XVI e XIX, como bíblias, livros e manuais litúrgicos.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">________________________<br /><br />* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)<br /><br /><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
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Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-28880899718165896702014-02-28T10:58:00.000-08:002015-09-06T11:17:28.810-07:00Religiões orientais na capital paulista <span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><i>Aos cinco anos você descobre que é uma versão brasileira de Dalai Lama. Sete anos depois, decide abrir mão de Nintendo e de namoro. Deixa o aconchego da casa no Alto de Pinheiros, região nobre paulista, para viver entre 4.000 monges da Índia. Michel Lenz Cesar Calmanowitz, filho de um engenheiro judeu e uma psicóloga presbiteriana, foi reconhecido como um lama – a reeencarnação de um guru indiano – durante o aniversário de sua mãe, celebrado em um restaurante japonês. Um visitante do Tibete, trazido por um casal de amigos da família, lhe revelou: “Ei, garoto, você foi um grande budista em vidas passadas, sabia? De certa forma Michel sabia que sim Calmanowitz”.</i></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O breve relato reproduzido acima faz parte da matéria “dalai sampa”, da jornalista Anna Virgínia Balloussier (Revista Serafina, Folha de São Paulo, p.35, 23/2). Segundo Balloussier, “já rapazinho, Michel fez a cabeça, raspou a cabeleira e foi morar num mosteiro indiano”. Hoje com 32 anos, mora com seu mestre na Itália onde dá conselhos pelo Twitter e busca ensinamentos no YouTube. De passagem por São Paulo, Michel falou à Serafina do Centro Dharma da Paz, um local de meditações filosóficas e prática do Budismo tibetano, localizado em Sumaré, zona oeste de São Paulo, e fundado em 1988, pelo Lama Gangchen Tulku Rinpoch, que frequenta o Brasil há mais de 23 anos e que teria sido o responsável pela identificação e ida de Michel à Índia e ao Tibete.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Construído em um terreno doado pelo empresário controlador da marca Parmalat, Marcus Elias – que teve seus bens bloqueados pela justiça por suspeita de “fraude”, em março de 2013 – o Centro Dharma da Paz também recebeu investimentos de Elias. À IstoÉ, revelou: “Não sou budista, sou lamaísta’, brinca Elias, que investiu R$ 10 milhões nas obras.”’ Ainda de acordo a revista, Elias conheceu o Lama Gangchen Rinpoch há quatro anos e, desde então, nunca toma decisões importantes sem ouvi-lo. Frequentemente viajam juntos pelo Tibete, Índia e Nepal. Elias também doou um terreno na cidade de Campos do Jordão, onde foi construído o maior templo budista tibetano do Brasil, e para onde também acompanha o Lama Gangchen Rinpoch.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Para além do Lamaísmo, a cidade de São Paulo também é base e porta de entrada para uma miríade de religiões orientais, como o islamismo que, além de duas mesquitas no Brás, também está presente em Santo Amaro, São Miguel Paulista e no Cambuci. Mas são as chamadas Novas Religiões Japonesas (NRJ) que ganham destaque na capital paulista. Segundo o doutorando em Geografia pela Universidade Federal do Paraná, Fernando Raphael Ferro de Lima, em “Geografia da Religião no Brasil: censos demográficos e transformações recentes”, a “migração de japoneses foi acompanhada da introdução de religiões orientais, como o budismo e o xintoísmo” (Revista de Geografia, p. 113, 2009). O templo budista de Cafeilândia (SP) foi construído no final do século XIX e é considerado o primeiro templo budista instalado na América Latina.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É do interior de São Paulo que também religiões como a Tenrykyo – que teve seu primeiro templo inaugurado em 1936, em Marília – chega à capital, estabelecendo-se na Rua Pelotas, 385, Vila Mariana. De Jundiaí, chega à Rua Domingo de Moraes, 1154, igualmente na Vila Mariana, a Heppy Science, a mais recente das NRJ (foi fundada em 1986, por Ryuho Okawa). A Perfecty Liberty também tem presença no bairro, além de 14 outras representações espalhadas pela cidade. O peso maior, porém, recai sobre a Seicho-no-iê, que mantém uma grande sede no Jabaquara, e a Igreja Messiânica Mundial, que possui uma área de 327 mil metros quadrados às margens da represa Guarapiranga, na Av. Profº Hermann Von Ihering, 6567, Jardim Casa Grande (antiga Estrada do Jaceguai), Parelheiros. Chamado de “Solo Sagrado”, o espaço é usado para ministração de cursos, Johrei e grandes concentrações de devotos de antepassados.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Com uma população quase três vezes maior que a do Uruguai, a cidade de São Paulo é mesmo uma concha de retalhos, de diversificação religiosa, racial e cultural. Quase que restritos à Índia e à Jamaica grupos religiosos compostos por hindus e rastafaris também tem presença em São Paulo. Na Pompeia, o Instituto de Cultura Hindu Naradeva Shala oferece aulas de yoga e tratamentos que envolvem técnicas alternativas de cura de enfermidades e moléstias. Outro centro hindu, a Aruna Yoga, no Paraíso, se diz “um dos mais conceituados e requintados lugares de São Paulo para a prática da Aruna Yoga”. A Aruna também se especializou na formação de instrutores. Embora oficialmente fundado em Nova Iorque, porém de orientação e fundador oriental, o Hare Krishna também tem base em São Paulo. Foi de Pindamonhagaba (SP) que os hare krishnas chegaram à capital, estabelecendo-se na Aclimação, no centro.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Estimativas apontam que existam mais de 100 mil adeptos de religiões orientais na capital paulista. O fato de a cidade de São Paulo ser ponto de entrada ou estabelecimento de pessoas de várias nacionalidades, explica a grande diversificação religiosa, não somente característica das regiões centrais, mas também periféricas. Não somente as crenças, mas também aspectos comuns da religiosidade oriental – particularmente indiana e nipônica – se mesclaram ao cotidiano dos paulistas, na prática de atividades físicas, de yoga, em parques como o Ibirapuera, ou mesmo na Avenida Paulista, onde, entre executivos e empresários, circulam instrutores nacionais e estrangeiros, com livros de meditação, roupa típica dos países originários. O bairro da Liberdade, na região central, também é uma das áreas de maior presença de budistas, xintoístas, messiânicos e seichonoitas. Mas também há a presença de igrejas evangélicas nipônicas, como a Igreja Evangélica Holiness (IEH), fundada em 1925 por missionários japoneses. De São Paulo a IEH se estabeleceu em nove outros Estados da Federação. </span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)<br /><br /><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-71435868531046378372014-01-29T12:55:00.000-08:002015-09-06T11:17:42.165-07:00A construção de macumbódromos no Rio e o Estado laico<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">“A Curva do S, no Alto da Boa Vista, na Zona Norte do Rio, ganhará status de Espaço Sagrado”, revela a sessão Comportamento da revista IstoÉ (Edição 2303, de 15/1/2014). Motivo? Segundo Mariana Brugger, que assina a matéria “<a href="http://www.istoe.com.br/reportagens/342763_UM+MACUMBODROMO+PARA+O+RIO" target="_blank">Um macumbródomo para o Rio</a>”, a inexistência de um local adequado para os rituais da umbanda e do candomblé ocasiona sujeira em áreas urbanas, de preservação ambiental e, como consequência, incorre em “perseguição” por parte de seguidores de outras crenças e ecologistas. Solução: a Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Rio de Janeiro decidiu reservar uma área de 4.500 m², na Curva do S, ao custo de R$ 1 milhão de reais, proveniente dos cofres públicos. O macumbódromo deverá abrigar, segundo o ex-secretário Carlos Minc, 15 recantos decorados com totens, de acordo com as características dos orixás, duas entradas com placas orientando o comportamento esperado dos visitantes e usuários e 2 banheiros.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Minc disse ter sido procurado por secretários de outros Estados para compartilhar a experiência. “Outras duas áreas do Rio deverão receber Espaços Sagrados”, declara Minc, que também ressalta que “dessa forma será possível (aos praticantes) fugir de santuários e parques privados que cobram pela entrada para a prática de cultos”. Também será uma forma de diminuição nos impactos ambientais, decorrentes das oferendas deixadas aos orixás. Sustentável? Bom, é discutível! Agora: é constitucional? Ou melhor: preserva o princípio de Estado laico? Experiências do passado – dos três primeiros séculos do Brasil -, como a do Regime do Padroado, são exemplos de como o Governo agia no sentido de manutenção da religião dominante: a Igreja Católica Romana.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Estabelecido antes do achamento de Pindorama (Brasil, a partir de 1503), o Regime do Padroado dava à coroa portuguesa autorização para construir templos e mosteiros, dotá-los de padres e religiosos e, principalmente, nomear bispos. O clero fazia parte do funcionalismo público, remunerado pelo Estado (PIERUCCI, O Livro das Religiões, p. 281). Promovida pelo Estado, a Igreja se espalhou por todo o território, mantendo significativa influência sobre o Governo até 1889. Com a República, o Catolicismo passa a atuar de maneira autônoma em relação ao governo central. O ponto principal da transição monarquia-república foi o não mais financiamento da Igreja com dinheiro público; há uma exceção, que é o destino de vertas do Ministério da Cultura para manutenção do patrimônio histórico – o que inclui, obviamente, templos católicos dos três primeiros séculos, mas também mesquitas, igrejas protestantes e casas de candomblé. </span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O grande problema com relação aos Espaços Sagrados – e que, embora aberto a 200 representantes de terreiros na elaboração do projeto, não é um procedimento, diríamos, de um governo laico, pautado nas Constituições de 1891 e a de 1988 – privilegia um seguimento religioso em detrimento a tantos outros presentes no Rio de janeiro, como os evangélicos. Novamente: é um processo que fere o Laicismo. Mas não é o único problema no Estado. O ensino religioso – diferente de São Paulo, que utiliza o ensino da História das Religiões – no Rio de Janeiro o ensino é confessional. “É um investimento errado”, ressaltou Yvonne Maggie em sua <a href="http://g1.globo.com/platb/yvonnemaggie/2012/03/02/ensino-religioso-nas-escolas-publicas-do-rio-de-janeiro-%E2%80%93-investimento-errado/" target="_blank">coluna</a> no portal G1, em março de 2012. Maggie registrou que o município passaria a gastar mais de 16 milhões com o projeto, e que a iniciativa seguia uma orientação estadual. “Desde 2000 já havia sido sancionada uma lei implantando o ensino religioso confessional nas escolas”, lembra Maggie.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O Estado do Rio de Janeiro, segundo último censo do IBGE de 2010, é multirreligioso, multirracial. E não é uma novidade: já em 1904 o jornalista João do Rio relata à Gazeta de Notícias a presença de um emaranhado de confissões religiosas, como protestantes históricos – particularmente presbiterianos, batistas, metodistas -, além de adventistas, espíritas, israelitas, cartomantes e até mesmo um exorcista católico que atendia no morro do Castelo – e isto a apenas 13 anos da publicação da Constituição de 1891, que colocava fim ao Regime do Padroado e dava liberdade jurídica a todas as religiões. As reportagens – posteriormente reunidas em um livro por Paulo Barreto, As Religiões do Rio, e hoje disponível pela José Olympio Editora – também serve de base para a discussão da situação do Catolicismo Romano naquele período (ver <a href="http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=1570855" target="_blank">Livraria Cultura</a>).</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É evidente que o Rio de Janeiro possui hoje a maior proporção de espíritas do País – algo em torno de 4% – e que, embora tenha se estruturado no Estado e depois perdido espaço para a Bahia, no período da Monarquia (PIERUCCI), retomou seu crescimento a partir da primeira metade do século XX, impulsionado por movimentos paralelos, como a umbanda, que se desenvolve entre as décadas de 20 e 30 e tem seu pico em 1941, com a realização do Primeiro Congresso Umbandista, na cidade do Rio de Janeiro. O candomblé também encontraria espaço no Estado, desde o final do século XIX, embora sua predominância maior seja na Bahia. O Rio de Janeiro também é palco do crescimento estrondoso do movimento evangélico – particularmente pentecostal e neopentecostal – e de movimentos com origem nos EUA, como os mórmons e as testemunhas de Jeová.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A construção de espaços exclusivos para rituais da umbanda e do candomblé também deveria ser seguido pela construção de espaços exclusivos para cultos evangélicos – principalmente após a proibição de pregação em trens e dos altos índices de criminalidade que põe em risco igrejas que realizam orações em áreas afastadas do centro, como em montes e em regiões da Floresta da Tijuca. Seria razoável, mas o ideal mesmo é que o Estado se mantenha distante de denominações religiosas, não investindo dinheiro público que poderia ser utilizado para a construção de conjuntos habitacionais e abrigar famílias que moram em áreas de risco da região serrana. O Estado concede muitos benefícios à religião ao não cobrar certos impostos e ao transferir recursos para casas de “recuperação” que sequer prestam um atendimento básico aos pacientes. O Estado deve ser laico.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
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<br />Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-40508495272382220712014-01-06T20:40:00.003-08:002015-09-06T11:17:57.544-07:00Evangélicos na Folha <span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><br /></b>Os evangélicos ganham cada vez mais espaço na mídia secular. A guinada se deve ao crescimento numérico (dados do IBGE apontam para 42,5 milhões) e midiático do movimento evangélico nacional. Mudanças na direção das Organizações Globo (particularmente após o falecimento do jornalista Roberto Marinho, em 6/8/2003, e a divulgação do novo mapa religioso brasileiro, em 2010) contribuíram de forma decisiva para a abertura dos meios de comunicação da Família Marinho aos evangélicos.<br /><br />É uma decisão comercial, obviamente, mas que traz como consequência a ampliação do leque midiático, aproximando outros órgãos da imprensa com a massa consumidora evangélica. Ao mesmo tempo tem diminuído os estereótipos, as caricaturas preconceituosas outrora presentes em minisséries e novelas da Rede Globo. Os tempos são outros, felizmente. Encenação de cultos em Amor à Vida, abertura do SBT para participação de cantores e lideres evangélicos em programas como de Raul Gil, é um avanço no sentido de que os estereótipos discriminatórios foram superados.<br /><br />Ainda há alguns resquícios do passado em impressos como a revista IstoÉ, mas tal se deve à problemática neopentecostal, particularmente em torno da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) e da Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD). A edição deste domingo (5) da Folha de São Paulo também traz alguns resquícios. Na edição, quatro referências – feitas por Hélio Schwartsmam, Fabiano Maisonnave, Bernardo Mello Franco e do Editorial São Paulo – põe os evangélicos em relevo.<br /><br />Na primeira, Schwartsmam menciona o lançamento do livro “Caught in The Pulpit: Leaving Belief Behind” (Capturados no púlpito: deixando a crença para trás), em que os autores Dennett e Linda LaScola fazem relatos de pastores, padres, rabinos e outras lideranças religiosas que se veem em um dilema existencial: “manter a integridade intelectual, o que implicaria renunciar a seus postos, ou ir torcendo as palavras e suas próprias crenças, para continuar exercendo suas funções e, assim, preservar casamentos, amizades, posição social e aposentadorias” (Folha de SP, A2).<br /><br />Acompanhando a polêmica em torno da terra indígena Tenharim, Maisonnnave destaca que os 900 tenharim não têm pajés e são de maioria evangélica – além de torcedores do Corinthians e do Flamengo. “Moram em casas de madeira com eletricidade. Quase todas as famílias são bilíngues, têm TV e moto, e duas aldeias estão conectadas à internet” (A5). O retrato descreve uma comunidade indígena menos isolada em relação a outras do interior da selva amazônica, e, ao mesmo tempo, descreve parte da presença evangélica em áreas indígenas – atualmente limitada, segundo agências missionárias com especialização em povos não alcançados.<br /><br />De forma um pouco mais polêmica, Mello Franco destaca: “Garotinho cadastra eleitores evangélicos e distribui kits”. Do Rio, onde recebeu gratuitamente um dos kits de Garotinho – que inclui um livro, camiseta e carteirinha personalizada com a foto do ex-governador -, Mello Franco deixa em relevo que a intenção é “se fortalecer no eleitorado evangélico do Rio”. Estado com o menor porcentual de católicos do país (45,8%), o Rio vive uma batalha pela preferência dos evangélicos, que somam cerca de um terço do eleitorado. “Eles são a principal aposta do deputado para voltar ao poder” (A6), conclui o repórter da Folha. No editorial de São Paulo, “TV Folha traz as melhores entrevistas do ano, uma das entrevistas chama a atenção”: “o padre Marcelo Rossi diz que é contra a candidatura política de padres e pastores” (A7), acrescenta ao debate.<br /><br />Apesar de alguns resquícios de oposição ou discriminação a alguns lideres ou segmentos evangélicos, de forma geral o relacionamento da mídia com os evangélicos tem melhorado nos últimos anos, como demonstra a aproximação das Organizações Globo com o universo evangélico brasileiro – um fato, por si só, de grande impacto. A presença de um <i>ombudsman</i> no editorial da Folha de São Paulo e em outros órgãos da imprensa também representa um avanço porque permite mediar conflitos – como a recente polêmica envolvendo duas matérias que renderam uma reprovação de Suzana Singer, <i>ombudsman</i> que responde pela análise dos conteúdos da Folha.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /><br /> </span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-58062886978343846612014-01-01T12:54:00.000-08:002015-09-06T11:18:12.816-07:00Os novos rumos da Igreja Deus é Amor<div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />A Igreja Pentecostal Deus é Amor (IPDA) passa por mudanças estruturais, de reposicionamento frente aos desafios representados pelo não investimento em grandes mídias e dos desafios doutrinários e litúrgicos. Mudanças recentes, como a troca das fachadas das filiais da IPDA por placas que veiculam a imagem de Miranda e sua coleção de cadeiras de rodas, e o investimento em propagandas em meios de comunicação como o jornal Metro, do Grupo Bandeirantes, demonstra que há uma inclinação no sentido de “modernização” e “abertura” da Igreja às mídias.<br /><br />Panfletos com a imagem veiculada nas fachadas também são usados no trabalho de evangelismo e divulgação das filiais da IPDA. A permissão, aos membros, de acesso à Internet também representa um avanço e uma iniciativa que poderá conduzir a outras mudanças igualmente importantes. A tendência é de que a IPDA siga o caminho de outras igrejas pentecostais igualmente conservadoras, como as Assembleias de Deus, que aos poucos liberou o acesso aos meios de comunicação – como a televisão –, além de não mais exigir ou impor regras de vestimenta.<br /><br />A idade avançada de David Miranda e a crescente necessidade de substituição na presidência mundial da IPDA também são fatores que irão pesar em futuras mudanças. Recentes posicionamentos veiculados na Circular Interna da Diretoria de Obreiros, de 8/9/2013, trazem as mais recentes mudanças e polêmicas internas da IPDA. São proibidas campanhas antibíblicas, como corredor de fogo; varões de branco, toque do anjo, desmancha de macumba; meninices e modismos, como pular, dançar, reteté; unção de objetos, como fotografias, votos (envelopes), peças de roupa. Ao mesmo tempo, o regulamento da IPDA adverte quanto ao perigo do misticismo.<br /><br />Outras mudanças igualmente interessantes é a criação do Curso Teológico de Formação de Obreiros – uma medida concebida com o objetivo de que os obreiros da IPDA não ingressem em cursos teológicos de outras denominações, como das Assembleias de Deus -, proibição de cultos ou orações em montes. Das mais polêmicas, destaca-se a adoção de salvas modelo boca de lobo. “A Diretoria, na preocupação e cuidado em proteger as ofertas e os dízimos dos membros, obreiros (as) e visitantes, designou a utilização de salvas com lacres padrão, de cor azul-clara, de modelo boca de lobo, para serem utilizadas em todas as IPDA’s Setoriais, Sucursais e anexos em todo o Brasil e exterior. Assim temos conseguido evitar, em grande parte, o desvio de ofertas depositadas, nessas salvas padrão, antes de chegar ao cofre das igrejas, “pois era o que vinha ocorrendo”, declara a Diretoria na página 59 da Circular, que também passa a exigir o uso de lacres nos cofres.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-30131204199629480892013-12-24T19:50:00.001-08:002015-09-06T11:18:26.315-07:00A nova estratégia de marketing da Igreja Universal <div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span></div>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />Com características cada vez mais próximas de um movimento destrutivo</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">, a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) está em pleno desenvolvimento de uma nova estratégia de marketing, liderada por seu bispo maior, Edir Macedo. Com a evolução da construção do Templo de Salomão (77% da construção já foi concluída), a nova meta da IURD é criar uma nova marca de liderança, um diferencial em relação às demais denominações evangélicas.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br />Na Mundial do Poder de Deus o chapéu de vaqueiro aos poucos passou a ser associado à imagem do apóstolo Valdemiro Santiago, em uma jogada de Marketing somente superada pelo novo visual do bispo Edir Macedo. Segundo nota do portal iG, de 26/8/2013, os fieis da IURD foram surpreendidos pela aparição do Bispo com um item pouco ligado a sua costumeira imagem: a barba. Surpreende pelo o fato de que o visual adotado por Macedo não condiz em nada com sua história eclesiástica e do perfil exigido de seus liderados. Parece mais que claro que o Bispo pretende associar sua imagem ao TS, em uma guinada que tem como foco à busca da liderança nacional, da consolidação dos planos da IURD para o Brasil.<br /><br />Com uma legião de fieis controlados pelos representantes hierárquicos de Edir Macedo uma nova postura destrutiva terá espaço nos próximos meses ou anos, com a centralização da fé em torno do TS. O Bispo demonstra possuir transtornos de personalidade, frieza emocional, identificáveis ao longo de sua vida, como no relato de que ele pretendia cometer suicídio no período de seu trânsito religioso, quando passava por várias denominações religiosas. Macedo é um hábil manipulador de massas e enquadra-se em um perfil desenvolvido pelo pesquisador estadunidense Michael Green.</span><br />
<blockquote class="tr_bq">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em sua maioria, as seitas do mal ou destrutivas são fundadas por uma única pessoa que retém todo o poder na organização. Comumente, os líderes de novas seitas conseguem essa posição por terem, em algum momento, ideias contrárias ou extremas às de uma religião de que participaram antes. Depois de se retirarem ou serem banidos de seus antigos grupos, eles decidem criar um novo culto, apoiados por alguns membros solidários que os seguiram. Entre as principais características do líder de uma seita destrutiva destacam-se o carisma, o magnetismo pessoal e o entusiasmo pela causa que defende, ou “produto” que vende. Dono de uma habilidade que faz com que as pessoas o sigam sem questionamentos, comanda seus fieis como seus devotos. Praticamente endeusado, o líder se torna o comandante supremo e a sua vontade deve ser obedecida. (Seitas modernas, 2001, p. 14)</span></blockquote>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Edir Macedo possui basicamente todas as características do perfil descrito por Green, e com um agravante: seu desejo de poder, de domínio religioso, o torna uma figura passível de análises ainda mais profundas, de seu perfil psicológico, de liderança. A nova estratégia de Marketing da Igreja Universal poderá representar um perigo ainda maior, dada a continua centralização na figura do Bispo, o líder – nas palavras de Green – “supremo da Igreja”. É preciso muita cautela e está mais que na hora de uma intervenção pública, federal, nas neopentecostais, e em especial na Universal. Nos EUA, a influência de igrejas neopentecostais já fugiu ao controle público, e no Brasil a situação não parece ser diferente. Manipulação, controle social, diminuição da capacidade de discernimento, são as marcas da Igreja.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contato:</b> pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
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Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-52999581281182965102013-12-19T15:27:00.000-08:002014-01-04T07:18:15.192-08:00<br />
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<div>
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<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/nepotismo-mal-tambem-atinge-igrejas.html">Nepotismo: mal também atinge igrejas evangélicas?</a></span></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2012/10/evangelicos-no-poder-consideracoes.html">Evangélicos no Poder: considerações gerais</a></span></li>
<li><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/02/a-formula-neopentecostal.html"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A fórmula neopentecostal</span></a></li>
<li><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/02/neopentecostalismo-brasileira.html"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Neopentecostalismo à brasileira</span></a></li>
<li><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/02/pentecostal-deus-e-amor-historia-e.html"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Pentecostal Deus é Amor: história e polêmicas</span></a></li>
<li><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/01/os-limites-entre-fe-e-medicina.html"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os limites entre a fé e a medicina</span></a></li>
<li><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/04/a-fe-adaptada-ao-meio.html"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A fé adaptada ao meio</span></a></li>
<li><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2012/12/hegemonia-divina.html"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Hegemonia em declínio</span></a></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/01/proximo-papa-pode-ser-um-cardeal.html">Próximo papa pode ser um cardeal brasileiro</a></span></li>
<li><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/07/os-cinco-pilares-da-nova-reforma.html">Os cinco pilares da nova reforma católica</a></span> </li>
<li><a href="http://brasilreligioso.blogspot.com.br/2013/12/universal-do-reino-de-deus-e.html"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">IURD E IPDA: movimentos destrutivos</span></a></li>
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Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-21107136902337316702013-12-06T15:33:00.000-08:002014-01-29T17:41:19.699-08:00Conhecendo Crenças: Evangélicos <span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A seguir disponibilizamos nossa recente entrevista ao periódico Conhecendo Crenças, de São Paulo (SP), sobre aspectos da igreja evangélica, suas crenças e presença no Brasil. A entrevista é parte da matéria de capa que foi às bancas na primeira quinzena de dezembro de 2013. Aproveite a leitura!</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Conhecendo Crenças. </b>Quando a igreja evangélica chegou ao Brasil?</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Johnny Bernardo. </b>Com relação ao Brasil, houve duas experiências evangélicas no período colonial: a primeira, de 1555 a 1560, com a chamada “França Antártica”. Neste período, calvinistas desenvolveram trabalhos evangelísticos entre indígenas de Guanabara, sendo o primeiro culto realizado em terras brasileiras em 10 de março de 1557, no idioma francês; a segunda experiência ocorre entre os anos de 1630 e 1654, quando a Igreja Reformada Holandesa estabelece 22 congregações em Pernambuco, por meio de 50 pastores. Com a expulsão dos holandeses, o Catolicismo Romano volta a predominar na Região. É a partir de 1810, ano em que é assinado o Tratado de Comércio e Navegação entre Portugal e Inglaterra, que o Protestantismo histórico recebe autorização para atuar no Brasil. No ano seguinte é instalada, no Rio de Janeiro, a primeira igreja protestante, de confissão anglicana. Atendia os súditos ingleses que antes se reuniam em residências e navios britânicos ancorados. A Constituição de 1824 daria, de fato, liberdade de culto aos protestantes, embora com algumas restrições, como a que proibia a construção de igrejas com aparência externa de local de culto e a não evangelização e conversão de fieis católicos.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Qual o termo correto para se usar: evangélicos ou protestantes?</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O termo “protestante” surge com a Dieta de Speyer (1529) quando líderes luteranos manifestam oposição ao Édito de Worns – édito este que proibia o ensino do Luteranismo em territórios do Sacro Império Romano-Germânico. Quanto ao termo “evangélico”, passa a ser utilizado para designar o grupo de crentes que têm como base doutrinária, de confissão de fé, os Evangelhos, os ensinos de Cristo e dos apóstolos. Ambos os termos têm origem externa, e não se desenvolvem a partir de declarações ou imposições de lideranças pastorais. São formas de identificação, nomenclaturas utilizadas para identificar um grupo religioso específico. Dessa forma, ambos são corretamente utilizados como forma de identificação. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Qual a diferença entre as igrejas evangélicas?</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">No universo evangélico as diferenças se dão entre protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais. As diferenças ocorrem no campo litúrgico, na organização ministerial, na forma como cada denominação alcança novos membros ou fieis. Há pequenas diferenças doutrinárias, por exemplo, entre presbiterianos e pentecostais de Primeira Geração, como a crença presbiteriana na doutrina da Predestinação. Segundo a doutrina da Predestinação, Deus já escolheu quem será salvo; não depende da escolha humana, mas de um ato único de Deus, expresso por sua graça salvadora. Os pentecostais acreditam que, apesar de a salvação ser dom de Deus, originária nEle, o homem também tem sua parte na salvação.</span><br />
<br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Por que existe mais de uma igreja evangélica?</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A mesma pergunta deveria ser feita com relação ao Catolicismo Romano: por que há mais de uma denominação católica? Sabe-se que, apesar de a Igreja Católica afirmar ser “una”, possui diversas ramificações em todo o mundo – no Brasil há 70 denominações católicas independentes. Como no Catolicismo, o movimento evangélico está dividido em inúmeras denominações, ministérios, por inúmeros motivos, como doutrinários, de costumes, de divergência administrativa ou mesmo por “visões” de pastores. Há ainda que se acrescentar aspectos regionais, de formação acadêmica, social, de localização cultural. As diferenças sociais, de tradição, também são reproduzidas na fundação de novas denominações.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Qual o país que tem o maior número de evangélicos?</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Estatisticamente, os EUA são a maior nação evangélica do mundo. No entanto, há de se considerar o fato de que o nominalismo evangélico e o crescente aumento de igrejas e movimentos evangélicos alternativos são elementos que indicam uma possível crise de identidade no movimento evangélico norte-americano. No Brasil há algo semelhante em desenvolvimento, mas a tendência é de que as igrejas evangélicas brasileiras deverão superar os EUA em número de membros. Há outras curiosidades, como a grande presença evangélica na Nigéria – país da África do Norte que sofre forte influência de grupos islâmicos – e a China, país comunista.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Então você concorda que a igreja evangélica é a que mais cresce no Brasil? </b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Sim, é um fato nítido para a maioria dos pesquisadores da religião, e podemos ir um pouco mais além: o Brasil não é mais o maior país católico do mundo, pelo menos não em número de praticantes. A declaração do cardeal Dom Geraldo Majella, ao G1, de que “aqueles que aparentemente mudaram, nunca pertenceram (à Igreja Católica)” e que “não se perde o que não tem”, reflete uma realidade cada vez mais perceptível dentro e fora da Igreja. Por ocasião do 50º Assembleia Geral da Conferência Nacional de Bispos do Brasil, realizada entre os dias 18 a 26 de abril de 2012, o padre jesuíta Thierry de Guertechin, apresentou, com base em dados coletados pela Fundação Getúlio Vargas e das Pesquisas de Orçamentos Familiares do IBGE, um quadro preocupante para os católicos. Segundo o jesuíta, apenas 5%, ou cerca de sete milhões de brasileiros vão à missa, de um universo de 123,3 milhões de fieis.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Por que a religião evangélica é a que mais cresce no Brasil?</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Há inúmeros motivos que poderíamos apontar como razões do crescimento da igreja evangélica brasileira, mas a principal é a de que a aproximação com os pobres, nas periferias, principalmente pelas igrejas pentecostais, facilita aos evangélicos se relacionarem com a camada mais sofrida da sociedade. Ao mesmo tempo, a presença cada vez maior de igrejas históricas, pentecostais e neopentecostais na grande mídia também facilita às comunidades locais, regionais, alcançarem de forma mais dinâmica os ouvintes. A estagnação católica, a ausência de uma liturgia participativa, são uma das razões da evasão em massa de fieis para igrejas evangélicas ou outras confissões religiosas, como as de origem norte-americana.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Existe alguma pregação para a igreja evangélica atrair os jovens?</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Sim, mas de forma diferenciada entre protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais. Há uma orientação pentecostal de alcance de jovens, e outra de igrejas neopentecostais, como a Bola de Neve, Sara Nossa Terra e Renascer em Cristo. Enquanto nas igrejas pentecostais há mensagens e cultos esporádicos dedicados aos jovens, nas neopentecostais a própria liturgia e mensagem têm como público alvo a juventude.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Como é o processo de formação dos pastores?</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O processo de formação de pastores varia de denominação para denominação. No entanto, no geral, são observados alguns critérios, como o tempo de conversão, histórico de atividades ligadas ao ministério, formação teológica compatível com a regra de fé adotada. Escolhido, o candidato é indicado ao corpo ministerial para análise e possível aprovação. Aclamado por unanimidade, e não havendo impedimento de qualquer natureza, o candidato a pastor é então consagrado e reconhecido publicamente. Há outros processos a serem observados, como o reconhecimento da convenção à qual a sua denominação é filiada. Ou seja, em denominações ligadas por convenção – como ocorre com as Assembleias de Deus e O Brasil para Cristo -, o candidato ao ministério pastoral também tem de ser reconhecido pela convenção, o que lhe vale reconhecimento nacional.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Qual a crença defendida pelos evangélicos?</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Se há algo que aproxima protestantes históricos, pentecostais e neopentecostais é a confissão de fé baseada nos credos apostólicos, embora com algumas relutâncias com referência a expressões como “da virgem Maria” (Credo dos Apóstolos, artigo 3) e “na santa igreja” (artigo 10 da mesma confissão). No mais, os cristãos protestantes manifestam sua fé na existência de “um só Deus, Pai onipotente, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis; em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho de Deus, gerado pelo Pai, unigênito, isto é, sendo da mesma substância do Pai, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, gerado, não feito, de uma só substância com o Pai, pelo o qual foram feitas todas as coisas, as que estão no céu e as que estão na terra; o qual, por nós homens e por nossa salvação, desceu, encarnou-se e se fez homem. Sofreu, ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, e novamente virá para julgar os vivos e os mortos (…) no Espírito Santo” (Credo de Niceia). Obviamente que há algumas diferenças no que se refere à Soteriologia (Doutrina da Salvação), como exposto anteriormente – sobre a doutrina da Predestinação e Livre-arbítrio.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-46560170849455097542013-12-06T15:31:00.002-08:002015-09-06T11:18:48.510-07:00A crise do crescimento <span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A igreja evangélica passa por uma intensa crise de identidade no Brasil. Fala-se em crescimento, mas que tipo de crescimento? De um lado, dados do IBGE apontam para 42,5 milhões como sendo o número de evangélicos; do outro, a impressão interna é a de um crescimento desordenado, deficitário, sem raízes ou fundamentação.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O que tem crescido – e que deve ser motivo de preocupação e análise - é o número cada vez maior de novas igrejas e ministérios. Disputas por poder – da impossibilidade de ascensão ministerial - e interesses pessoais, econômicos, são alguns dos vários motivos pelos os quais levam lideranças a organizarem suas próprias denominações.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Na maioria das vezes acrescentam-se expressões de impacto ou títulos adicionais, como Assembleia de Deus Coluna de Fogo e Avivamento Bíblico Restaurado, permanecendo nas novas denominações aspectos da igreja-mãe. Raramente são abertas novas igrejas por diferenças doutrinárias ou estratégia diferenciada.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É possível encontrar, em uma mesma rua, avenida ou bairro, até duas ou mais assembleias de Deus, por exemplo. Quase sempre são alugados pequenos salões, que passam a abrigar um pequeno número de membros, na maioria das vezes de uma mesma família, ou círculo de amizades. São igrejas sem ação, que fomentam uma espécie de “religiosidade” mesclada com interesses pessoais, e um completo desinteresse para com a vida pessoal de seus membros ou congregados, de suas necessidades de habitação, alimentação, vestuário. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Diferenciam-se de suas vizinhas pela eloquência de suas pregações - extremamente desprovidas de compaixão – e canções repetitivas. Não há diálogo, não há cooperação entre igrejas vizinhas, sendo um reflexo do que se dá em nível nacional. A Igreja, no Brasil, é uma igreja de múltiplas faces, de múltiplos interesses e projetos pessoais. A unidade é, portanto, uma utopia, um sonho distante.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Igualmente tem diminuído a presença da Igreja na sociedade, no diálogo com a população. A Igreja caracteriza-se como uma igreja de templos, de reuniões infindáveis, de liturgia rotineira e massante. Ao invés de crescer para além de suas paredes, muitas igrejas têm se retraído cada vez mais. Resultado: crentes passam a exercer uma fé alienada da Igreja, de seus templos e liturgias. Saem em busca de Deus, de uma experiência espiritual mais profunda, desprovida de regras e costumes que os distanciem de Deus. Outros desistem da fé, voltam às práticas anteriores à conversão, desiludidos com seus líderes.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">________________________</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-24296756946674184212013-12-06T15:30:00.001-08:002014-02-28T13:38:36.273-08:00Igreja evangélica brasileira: realidade e desafios <span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e disponível a partir de 2012, o número de evangélicos é de 42,5 milhões. De fato, o movimento evangélico brasileiro cresceu de forma surpreendente e podemos afirmar que o número de praticantes já superou o de católicos – há apenas sete milhões de católicos praticantes no Brasil, conforme exposição feita pelo padre jesuíta Thierry Lierry de Guertechin, à 50º Assembleia Geral da CNBB, em abril de 2012.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Apesar da superação numérica – pelo menos no que se refere ao número de praticantes -, a igreja evangélica passa por uma crise de identidade inegável para qualquer pesquisador da religião. Não obstante a qualidade e precisão das estatísticas desenvolvidas pelo IBGE há uma camada não penetrável pelo Instituto. Por exemplo, o simples fato de alguém demonstrar interesse ou opção religiosa não qualifica tal pessoa - o Censo é desenvolvido com base em declarações. </span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Outro problema ocorre com relação às igrejas neopentecostais. Por exemplo, o número de seguidores da Igreja Universal do Reino de Deus é algo em torno de 1,873 milhões – considerando a queda de 10,8% verificável nos últimos anos – e, apesar do crescimento de consciência em algumas regiões do Brasil, grande parte dos que participam das reuniões da IURD não possui formação evangélica definida. O mesmo pode ser identificado na Mundial do Poder de Deus, cujos fieis são atraídos por campanhas de cura e libertação, mas sem acompanhamento bíblico, pastoral.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Obviamente que estamos diante de uma dificuldade, de um problema que diz respeito unicamente às autoridades pastorais. Apesar das diferenciações entre o que aponta o IBGE e o que se verifica internamente, é notório que a “imagem” da igreja tem crescido, sobretudo, na grande mídia, por meio de figuras conhecidas – a exemplo de cantores como Ana Paula Valadão e Thalles Roberto que, recentemente, tiveram participação em programas da Rede Globo. O fenômeno ocorre em decorrência do aumento do poder de consumo de um seguimento que, até recentemente, era alvo de críticas.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Podemos concluir que a igreja evangélica passa por um período de grande crescimento no Brasil, mas problemas como dissenções, lavagem de dinheiro, nepotismo, extremo centralismo administrativo, brigas por poder, são elementos que descaracterizam parte do crescimento. Outro problema é o distanciamento verificável em algumas igrejas com relação à sociedade. Nos últimos anos a igreja tem se caracterizado como uma “igreja de templos”, de “liturgias”, sem presença relevante na sociedade. Oswaldo Prado finaliza: “Mesmo tendo Jesus afirmado que chegaria a hora em que seus adoradores o adorariam em espírito e em verdade, ainda somos uma igreja de templos. [...] Em verdade, os evangélicos estão, muitas vezes, circunscrevendo sua fé aos limites do templo” (Povos, Edição 3, p.30).</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">________________________</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, colaborador do NAPEC (Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão), pesquisador da religiosidade brasileira e movimentos destrutivos, e licenciando em Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-42260872181991553152013-12-06T15:28:00.003-08:002015-09-06T11:19:08.168-07:00Até que ponto uma religião pode interferir na vida de um adepto<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O paralelo entre o espiritual e o material (ou social) há séculos é interpretado de diversas maneiras. A grande dificuldade é em saber quais os limites entre a vida espiritual de um adepto, e sua realidade social. De forma geral, todas as religiões interferem de alguma forma no cotidiano de seus seguidores.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Questões associadas à vestimenta, à alimentação, ao entretenimento são discutíveis em grupos religiosos pertencentes, por exemplo, ao cristianismo e ao islamismo. Outras restrições, como a do acesso aos meios de comunicação (televisão, rádio, revistas) e a publicação de listas de “livros proibidos” aos membros ou cidadãos de um país confessional, também são interferências diretas na forma de vida dos indivíduos.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">No Irã – e em outros países islâmicos confessionais, dirigidos com base na Sharia – a religião não é simplesmente um elemento social, parte de um contexto geral da sociedade, mas permeia todos os aspectos sociais dos iranianos, com restrições e punições igualmente severas. A execução de 16 rebeldes opositores, neste sábado (26), no Irã, e a postagem de vídeos por uma muçulmana dirigindo, na Arábia Saudita - é proibido às mulheres dirigirem -, são dois exemplos recentes. De forma semelhante, a religião também é usada em alguns países ocidentais como um mecanismo de controle, de influência política.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Mesmo com o avanço da democracia, da laicidade do Estado, a religião ainda é um elemento que exerce forte influência em governos, em discussões de abrangência universais. Há séculos o Catolicismo Romano se utiliza de mecanismos de submissão, seja quando das cruzadas, das inquisições, dos cerceamentos científicos, da indução ao belicismo e aos conflitos étnicos.</span><br />
<br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Aspectos constitucionais, das leis, em muitas ocasiões são desrespeitados por denominações religiosas, como os que praticam a poligamia nos EUA (ver Igreja Fundamentalista de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), ou que induzem seus membros a doarem mais do que o necessário para à manutenção de sua estrutura organizacional. Neste segundo aspecto, o neopentecostalismo brasileiro se destaca pelo o fato de que exerce forte domínio psicológico sobre seus adeptos.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O fanatismo religioso – particularmente no que se refere às igrejas pentecostais extremistas, a exemplo da Igreja Deus é Amor, Sinos de Belém Missão das Primícias e Congregação Cristã no Brasil, para citar algumas igrejas – se traduz pelo o que o membro pode ou não fazer ou ser. Por exemplo, a persistência da IPDA em proibir o acesso à televisão, à vestimenta já adotada por outras igrejas, à prática esportiva e ao entretenimento, interfere de forma radical na vida de seus membros.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Apesar das restrições impostas pela IPDA, a tendência é de que, futuramente – como em uma eventual ausência de seu líder máximo, David Miranda -, ocorram mudanças semelhantes as que vêm ocorrendo nas Assembleias de Deus – particularmente desde que a televisão e os usos e costumes foram liberados aos membros. A dificuldade de assimilação dos limites entre o espiritual e o social é um sério problema porque gera transtornos dificilmente irreparáveis na medida em que a capacidade crítica, de vivência social, de um fiel é seriamente prejudicada e limitada.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Há questões econômicas, de controle, por trás do fanatismo religioso que ultrapassa os limites pentecostais, cristãos, e que são perceptíveis na forma como organizações com forte atuação no Brasil (como as Testemunhas de Jeová) se articulam no cenário religioso. Nas TJ, a maneira quase militarizada como seus membros são organizados, e a influência exercida sobre as famílias (inclusive com proibições de contato com membros disciplinados – a preguiça também é tida como aspecto passível de disciplina) são retratados em filmes como To Verdener (Mundos Separados).</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Produzido pelo dinamarquês Niels Arden Oplev, em 2008, To Verdener retrata a história de Sara (Rosalinde Mynster), uma jovem de 17 anos que foi criada com base nos ensinos das Testemunhas de Jeová, e que se vê em situação de conflito após iniciar um relacionamento com o ateu Teis (Johan Philip Asbaek). Disciplinada pelos anciões de sua congregação, Sara passa a ser rejeitada por sua própria família. O enredo, baseado em uma história verídica, é algo comum nas TJ.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Manipulação, restrições, cerceamentos, mortificações, são mecanismos de controle psicológico, característico de grupos destrutivos, e que visam explorar financeiramente adeptos. Novamente, todas as religiões possuem algum nível de influência no cotidiano de seus membros, mesmo que em alguns casos de forma não perceptível ou racional. Neopentecostais, pseudocristãos, são citados como exemplos, mas há inúmeros outros que se enquadram na proposta de análise da matéria.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Resumindo, o ponto principal a ser tomado como foco de análise é até que ponto uma religião pode interferir na vida de um adepto? Restrições como a de acesso a livros, a da ingestão de certos alimentos (como café e chá preto, no caso do Mormonismo), à participação em eventos festivos, recreativos ou de entretenimento (como no caso de algumas igrejas pentecostais, a exemplo da IPDA), de inserção em cursos universitários (como no caso das Testemunhas de Jeová), e aos direitos da mulher (como no caso do islamismo), são questões a serem investigadas mais de perto.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-40115792850788088252013-12-06T15:27:00.004-08:002015-10-21T19:19:04.493-07:00Brasil evangélico e seus significados <span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A seguir disponibilizamos nossa recente entrevista ao jornal Nosso Tempo, do Rio de Janeiro (RJ), sobre o crescimento evangélico nacional, a laicidade do Estado e temas correlatos. </span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Nosso Tempo. </b>A que se deve o crescimento dos evangélicos no Brasil, nas últimas décadas? Em termos práticos, o que significa esse crescimento para a Igreja e a sociedade brasileira?</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Johnny Bernardo. </b>Há uma série de fatores relacionados ao crescimento dos evangélicos brasileiros, como o investimento, a partir dos anos 50, em meios de comunicação de massa, cruzadas evangelísticas conduzidas por pastores norte-americanos, chegada – também nos anos 50 – do pentecostalismo de costumes liberais, representado por igrejas como O Evangelho Quadrangular e a Igreja Cristã de Nova Vida, além de campanhas de cura e libertação conduzidas por igrejas autônomas, como a Deus é Amor e a Casa da Benção.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Com o surgimento, nos anos 70, da Igreja Universal do Reino de Deus, tem início uma nova fase no movimento evangélico brasileiro, em que elementos do pentecostalismo clássico, autônomo e liberal são adaptados a um novo contexto, levando ao desenvolvimento do que seria conhecido como neopentecostalismo ou, como preferem alguns estudiosos da religião, baixo-pentecostalismo. Da IURD surgiria, segundo o pesquisador francês Marion Aubree, as “igrejas clones da Universal”, com características e estratégias diferenciadas.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Finalmente, há uma importância histórica no sentido de que os evangélicos passam a assumir uma nova postura na sociedade, com maior representação em meios de comunicação outrora avessos ao protestantismo. Por outro lado, nota-se uma discrepância e diferenciação contínua no movimento evangélico brasileiro, que o torna um movimento independente, competitivo, superficial. O Censo 2010 do IBGE aponta para 42,5 milhões o número de evangélicos brasileiros, mas não leva em conta o fato de que não há, pelo menos nas igrejas neopentecostais, uma consciência definida do que é ser Igreja, sendo comum frequentadores orbitarem entorno de terreiros de umbanda e templos da Universal, por exemplo. É um problema não identificado pelo IBGE.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A sociedade, de modo geral, é afetada pelo crescimento das igrejas evangélicas brasileiras, pelo o fato de que as opções de culto ou religiosidade são consideravelmente maiores do que, por exemplo, na primeira metade do século XX, quando o catolicismo romano reinava absoluto, tendo apenas algumas pequenas concorrências locais, de igrejas protestantes históricas (presbiteriana, batista, por exemplo), religiões de possessão (umbanda, candomblé) etc. A própria herança religiosa é outra realidade que começa a perder sentido no Brasil. Os novos brasileiros veem ao mundo em um período em que a diversidade religiosa oferece multiplicas opções de escolha.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>A maior exposição evangélica (na mídia, por exemplo, com a participação de pastores e cantores gospel em programas “seculares” ou com o aumento de programações das igrejas nas grades de TV) tem facilitado a propagação do Evangelho ou provocado desgaste? O que pode ser feito para que a presença evangélica seja, de fato, relevante na sociedade? Temos o exemplo de alguma comunidade, país, em que a Igreja trabalhou bem, nesse sentido?</b></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os meios de comunicação são instrumentos de propaganda, de marketing, que facilitam o intercâmbio entre vendedores e consumidores. Obviamente que religiões, ONGs e partidos políticos recorrem aos recursos audiovisuais com o intuito de tornarem seus projetos e produtos “vendáveis” ao grande público. É uma maneira prática, diríamos, de penetração em locais diversos. Sendo um recurso, cada grupo ou pessoa jurídica o utiliza com um objetivo especifico, embora nem sempre idôneo ou eticamente correto.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Ao mesmo tempo em que contribui com a divulgação da Palavra, as programações evangélicas aos poucos perdem seu sentido original. Os recursos audiovisuais têm sido usados como mecanismos de comercialização da fé, sem compromisso pastoral. Tornou, digamos, um método adaptável por qualquer organização religiosa, como a Igreja Templária de Cristo na Terra e a Catedral Mundial dos Orixás, que aos poucos aderem ao formato das programações neopentecostais, com frases chamativas e de impacto.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Nas últimas décadas a igreja evangélica brasileira tem se caracterizado como uma Igreja de templos, de liturgias, de reuniões infindáveis. Em outras palavras, ao invés de se fazer presente na sociedade, a Igreja tem se retraído cada vez mais. Tal nos leva a refletir sobre que tipo de crescimento evangélico a mídia se refere? Há algo não perceptível dentro e fora das instituições evangélicas, que é a multiplicação de pequenos salões em áreas relativamente próximas uma das outras. São locais que, geralmente, não possuem mais do que vinte membros, que se revezam na condução dos cultos, de forma rotineira.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A Igreja somente será relevante na medida em que aprender a dialogar com os vários segmentos da sociedade, compartilhar seus problemas e frustrações. É preciso, portanto, ampliar a presença nos bairros, nas comunidades, no dia-a-dia das pessoas. Uma igreja reclusa, isolada, não produzirá resultados eficientes, mas sim desgaste dos membros. Nos EUA, têm se destacado o surgimento de cultos alternativos, como em academias, escritórios, restaurantes, empresas etc. O ideal é não substituir o templo por um local alternativo, mas tornar a fé mais participativa, mais contextualizada à realidade social.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Estatísticas apontam uma tendência de crescimento vertiginoso dos evangélicos no Brasil para os próximos anos. Na sua visão, surgirá uma igreja com outro perfil ou é a atual igreja que crescerá?</b></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Há uma tendência quase que universal de adaptação religiosa, de contextualização de crenças e práticas. Comparada com os primeiros anos da segunda metade do século XX, a igreja evangélica contemporânea possui inúmeras diferenças, que passam pelo sistema litúrgico e de usos e costumes. Portanto, há de se desenvolver, nos próximos anos, uma significativa diferenciação entre protestantes históricos e pentecostais. A tendência é de que o protestantismo histórico se torne cada vez mais liberal, aberto a novas tendências e discussões da sociedade; diferente do pentecostalismo, que será caracterizado como um movimento conservador, tradicionalista. É uma inversão, dado o fato de que o protestantismo histórico, nos primeiros 25 anos do século XX, foi conhecido como um movimento extremamente conservador.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O desenvolvimento do liberalismo teológico fez com que algumas denominações protestantes dos EUA e da Europa começassem a repensar determinados pontos polêmicos em que se via obrigada a discutir, como a consagração de homossexuais ao ministério, pesquisas de células-tronco embrionárias, aborto etc. O pentecostalismo, por outro lado, surgiu nos anos 10 do século XX como um movimento agregador, menos fundamentalista, porém incisivo em questões de família. Nos últimos meses vem assumindo um novo aspecto, menos fanático em questões de usos e costumes, porém conservador em questões ligadas ao matrimônio heterossexual. Obviamente que a tendência geral é de adaptação à sociedade, mesmo que mantidos alguns aspectos conservadores. Os pentecostais vêm passando por uma série de adaptações ao longo das últimas décadas, e deverão evoluir para novas mudanças.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A Igreja Pentecostal Deus é Amor é um exemplo de que, com uma possível ausência de seu líder máximo e fundador, David Miranda, deverá caminhar para novas mudanças, como abertura aos meios de comunicação, diminuição da rigidez doutrinária. Há algumas mudanças em processo, como a veiculação da imagem do fundador nas fachadas das filiais, e em meios de comunicação. Recentemente a Internet foi liberada aos membros, e já há uma preocupação com a formação acadêmica (teológica e secular), por parte de alguns líderes e membros da IPDA. É uma tendência comum às igrejas pentecostais, como a Assembleia de Deus que, com a chegada da televisão ao Brasil, a proibiu aos membros, mas que aos poucos liberou o acesso ao recurso. Os costumes também passam por um processo de liberalização, embora com certa resistência localizada.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>A tendência é que a igreja evangélica continue desunida, com o embate entre reformados e pentecostais/neopentecostais sendo cada vez mais evidente?</b></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Certamente. As diferenças doutrinárias, de costumes, de organização etc., são elementos que dificultam uma possível aproximação entre as várias vertentes evangélicas brasileiras, notadamente entre históricas e pentecostais em relação as neopentecostais, ou mesmo entre igrejas protestantes históricas e pentecostais. No entanto, observa-se uma contínua aproximação no que se refere aos desafios da pós-modernidade, como as políticas homossexuais que procuram restringir a liberdade de expressão evangélica, com projetos como a PLC 122/2006, além de políticas ligadas à legalização do aborto, da prostituição e do uso de drogas, como a maconha, por exemplo. A tendência é de uma possível articulação religiosa, em um âmbito nacional e interdenominacional, e que envolverá representantes evangélicos e católicos. É o único caminho dado à expansão ideológica e de influência de grupos de defesa do homossexualismo, nos três poderes.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Como seria um país de maioria evangélica, que tivesse também um presidente evangélico? “Do outro lado da moeda”, não haveria o risco de o país perder sua característica laica? Quais seriam os deveres desse presidente, como cristão?</b></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A discussão sobre uma futura hegemonia evangélica no Brasil passa pela questão da manutenção do laicismo, sem dúvida alguma. Diria que, os evangélicos já são maioria no Brasil, em relação ao número de católicos praticantes. É um fato igualmente não perceptível pelo Censo 2010 do IBGE, que apontou algo em torno de 123,5 milhões de pessoas que se declaram católicas. No entanto, dos próprios dados coletados pelo IBGE e pela Fundação Getúlio Vargas, foi detectado e apresentado um dado preocupante por ocasião da 50º Assembleia Geral da Conferência Nacional de Bispos do Brasil, realizada entre os dias 18 a 26 de abril de 2012. Segundo o padre jesuíta Thierry Lierry de Guertechin, apenas 5%, ou cerca de 7 milhões de brasileiros vão à missa e recebem os sacramentos, de um universo de 123,3 milhões que se declaram “católicos”. Portanto, poderíamos adiantar e dizer que o Brasil não é mais o maior país católico do mundo, pelo menos não em número de praticantes. É uma realidade.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">As discussões em torno do presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara dos Deputados, Marco Feliciano, servem de exemplo e termômetro para um futuro questionamento que envolveria, por exemplo, um presidente evangélico. Como se daria, por exemplo, a relação do Governo (no caso, presidido por um evangélico) com os diversos credos religiosos, como o catolicismo (romano e popular), às religiões afro-brasileiras, às de origem norte-americana (como as Testemunhas de Jeová), e às religiões orientais (a exemplo do islamismo e das diversas correntes de origem nipônica), cujo crescimento não deixa margem a dúvidas de que o Brasil será, de fato, dentre alguns anos, composto por uma multiplicidade de credos ou confissões. Alguns movimentos seculares, como de homossexuais e ateus, também têm experimentado um significativo crescimento nos últimos anos, mesmo que em termos ideológicos ou partidários.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Há de se considerar, ainda, o fato de que o Brasil já foi governado por dois presidentes evangélicos, em um período relativamente próximo – há um intervalo de 20 anos entre o término do primeiro e o começo do mandato do segundo e situações políticas semelhantes. Café Filho (1899-1970), foi presidente do Brasil entre 1954-55, no lugar de Getulio Vargas. Membro da Primeira Igreja Presbiteriana de Natal (RN), onde teria sido doutrinado no calvinismo, Café Filho entrou para a História do Brasil como o primeiro presidente protestante (evangélico) do país. Apesar de evangélico, era defensor do direito ao divórcio, pelo o que foi alvo de duras críticas e oposição por parte da Liga Eleitoral Católica. Menos fervoroso que Café Filho, porém com as mesmas crenças fundamentais – com exceção do calvinismo -, Ernesto Beckmann Geisel (1907-1966) era filho de imigrantes alemães, estudou no colégio protestante Martin Luther, e, como os pais, era luterano. Eleito 29º presidente, o luterano descendente de alemães governou o Brasil entre 1974 e 1979, período em que foi sancionada a Lei do Divórcio.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Embora o Brasil tenha sido governado por dois evangélicos, há uma significativa diferença entre as décadas de 50 e 70, com a atual dinâmica religiosa brasileira. Primeiro, as turbulências em torno de Getulio Vargas, o fato de Café Filho ter exercido o cargo de vice-presidente, e ter ocupado a Presidência por não mais que um ano – devido o falecimento de Vargas -, são elementos que o desqualificam. A eleição de Ernesto Geisel, em 1974, à presidente da República, também pode ser alvo de questionamentos, pelo o fato de não ter sido eleito por meio do voto popular, mas por meio de uma eleição indireta – pelo colégio eleitoral. Segundo, o número de evangélicos nos anos 50 e 70 era insuficiente para a eleição de um presidente evangélico. Atualmente, no entanto, devido à diminuição no número de fieis católicos – passou de 70,90% em 1970, para 64,6%, em 2010 – e o crescimento cada vez maior do número de evangélicos – passou de 6,6% em 1970, para 22,2% em 2010 – é um claro indício de que os evangélicos poderão, de fato, alcançar o Poder dentre alguns anos – se cumprida à perspectiva de que, em 2030, representarão 50% da população. Mesmo que eleito um presidente evangélico – o que, em si, não há problema algum -, a laicidade do Estado tem de ser preservada, dado o fato de que o Brasil possui uma grande diversidade religiosa. Portanto, não cabe a um presidente evangélico utilizar o Governo para beneficiar ou promover sua confissão religiosa.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Discussão recente na mídia, em um estado laico, é permitido o uso de símbolos religiosos em repartições públicas, culto nas plenárias etc.? Isso não prejudica a credibilidade de quem deveria cuidar dos interesses de toda a sociedade?</b></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A laicidade pressupõe neutralidade em questões religiosas. Um estado não deve, portanto, permitir que símbolos internacionalmente reconhecidos sejam expostos em repartições públicas, não por uma questão de o Estado ser ateu ou não, mas por uma questão de neutralidade. O uso de espaços públicos para a realização de eventos religiosos não fere a laicidade pelo o fato de que o local é, por definição, público – desde que, convém ressaltar, não exista favorecimento de determinada organização religiosa, em detrimento de outras. No entanto, não cabe ao Estado financiar eventos religiosos, como o verificado em algumas cidades do Brasil, como ocorre em uma cidade do ABC paulista, onde o Executivo, há pelo menos dez anos, financia uma conferência missionária evangélica, com liberação de até R$ 60 mil ao ano. A vinda do Papa Francisco ao Brasil é uma exceção pelo o fato de que a relação é a de Estados, e não, simplesmente, a do Estado brasileiro em relação ao Catolicismo Romano.</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b><br /></b></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>O que dizer sobre a tentativa da Igreja Católica de retomar influência em países, como Brasil, onde o número de fiéis é decrescente? Esse projeto terá alguma influência sobre a configuração do mapa das religiões nos próximos anos no país? </b></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) passa por uma crise institucional e numérica perceptível por qualquer estudioso da religião. É fato que a ICAR presencia uma queda em sua hegemonia global, como na Europa ocidental, onde o ateísmo, o islamismo e o nominalismo cresce de forma considerável e, na Europa oriental, a Igreja Ortodoxa Russa (IOR) possui milhões de fieis. Há uma tentativa, iniciada com a eleição do primeiro papa não-italiano em pelo menos 460 anos, o polonês Karol Wojtyla, de fortalecimento de suas áreas de influência, a partir de países como o Brasil, o México, os EUA, a Itália, a Polônia e as Filipinas. A escolha de Cracóvia, na Polônia, como a próxima cidade-sede da JMJ segue uma agenda de fortalecimento regional. Com uma população de 38,53 milhões, a Polônia é de especial interesse para o Vaticano pelo o fato de que possui o maior número de católicos por habitantes da região, com algo em torno de 86,7% de fieis. Situação diferente ocorre na Ucrânia, onde há apenas 11,1% de católicos, contra os 54,3% de ortodoxos, e na Romênia, onde o número de católicos não passa de 4,7%.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A chegada da Renovação Católica Carismática (RCC) ao Brasil, no começo da década de 70, o investimento em padres jovens e midiáticos, e a realização da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no Rio, representam parte do esforço da Igreja no sentido de retomada da dianteira. Foi com a Constituição de 1891 que a Igreja começou a perder parte de sua hegemonia, sendo finalmente ameaçada com o crescimento pentecostal e neopentecostal, a partir da década de 50. Atualmente, os esforços pela manutenção de uma confissão religiosa contextualizada parecem começar a surtir efeito, principalmente em um momento em que o protestantismo demonstra dar sinais de enfraquecimento, com evasão de crentes e um crescente liberalismo teológico. A tendência é, portanto, de que o Catolicismo Romano se fortaleça nos próximos anos, mas com uma característica predominantemente ecumênica e retomada das Comunidades Eclesiais de Base.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Sem dúvida alguma haverá uma mudança no mapa das religiões nos próximos anos, mas não apenas por conta de uma possível retomada da hegemonia católica no país, mas também por um contexto geral, como o crescimento de grupos religiosos de origem norte-americana e nipônicas, por exemplo. O Brasil, assim como os EUA, o Japão e a Rússia, serão os futuros celeiros mundiais de religiões, ao mesmo tempo em que o radicalismo islâmico, o ateísmo, o homossexualismo e a anarquia encontram cada vez mais espaço.</span><br />
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<br />Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-46448184149505620942013-12-06T15:00:00.000-08:002015-09-06T11:19:19.346-07:00A nova maçonaria <span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É fato: a maçonaria passa por um processo de intensa crise no Brasil. Fundado em setembro de 1822, o Grande Oriente do Brasil (GOB), se diz “a única potência brasileira a deter o reconhecimento primordial, secular e definitivo da Loja-Mãe da Inglaterra e inscrito entre as quatro maiores potências maçônicas do mundo”. A informação, concedida pelo secretário geral de gabinete, Antonio Gaviolli, revela parte da crise pela qual atravessa a maçonaria. O GOB, que teve participação nos principais processos que marcaram o Brasil monárquico e republicano, atualmente se vê impotente diante dos acontecimentos nacionais, como os protestos populares, das ruas e a crise política. </span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Cismas. De única instituição representativa, a partir de 1927 o GOB passou a dividir o cenário nacional com o primeiro cisma conhecido, a Grande Loja Brasileira e, a partir de 1973, com a Confederação Maçônica do Brasil. Atualmente há várias lojas e confederações. </span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Números. A evasão de membros, de lojas do GOB, e a grande diversidade de lojas maçônicas por todo o País levou à estagnação numérica. Segundo a List of Lodges (2011), há 211.000 maçons no Brasil, dos quais 75.987 fazem parte do GOB e 106.112 possuem ligação com as grandes lojas confederadas à Confederação da Maçonaria Simbólica do Brasil – os demais 28.942 membros fazem parte das 17 Grandes Lojas Orientes Independentes.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Polêmicas. A recente história da maçonaria é marcada por algumas polêmicas, como o registro de 21 livros “secretos” da Ordem na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, pelo então grão-mestre Marcos José da Silva – fato que levou a revista ISTOÉ a publicar a matéria Impeachment na maçonaria (2010). Outra polêmica é a aceitação de mulheres em obediências mistas.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Estratégias. Para melhorar os índices de crescimento algumas lojas veem investindo em meios de comunicação, como programas televisivos - veiculados em canais abertos –, desenvolvimento de sistemas internos de comunicação, com rádio e TV, e sites onde é possível acessar vídeos de entrevistas, reuniões públicas e até mesmo verificar endereços de lojas. Outra inovação é a veiculação de manuais de abertura de lojas, como a da Ordem Maçônica Mista Internacional “Le Droit Humain”, que estabelece onze pontos a serem observados. As novas estratégias surpreendem porque a maçonaria sempre foi conhecida como uma organização secreta ou discreta. </span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Filiação. Ainda como parte da estratégia de crescimento, hoje é possível se tornar membro da maçonaria com um simples preenchimento de cadastro online. Confirmado o cadastro, algumas horas ou dias depois um representante entra em contato com o postulante para agendar uma entrevista em uma das lojas-sede mais próximas, onde é dado prosseguimento ao ingresso na Ordem Maçônica. Também há uma taxa a ser paga, cujo valor varia de loja para loja. O GOB é um dos poucos representantes que seguem o modelo primitivo – que é a filiação por indicação.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A crise pela a qual a maçonaria atravessa possui outros fatores, como as diversas críticas e polêmicas externas da qual é alvo, a suspeita de alguns setores, e o aspecto ultrapassado da organização – elementos estes considerados como barreiras a serem derrubadas, via modernização da Ordem, necessária ao crescimento, dizem seus representantes.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">________________________</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)</span><br />
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contato:</b> pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-4240560035005384606.post-139150980517738672013-12-06T14:58:00.003-08:002015-09-06T11:19:42.441-07:00O baixo crescimento do protestantismo histórico; alguns apontamentos <span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>por Johnny Bernardo*</b></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os mais recentes dados colhidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgados em 2012, não deixam dúvidas de que o protestantismo histórico (PH) foi superado há muito pelo pentecostalismo. Mas à que se deve o baixo crescimento do PH? Antes de compreendermos o porquê da superação numérica, convém ressaltar três principais aspectos que, teoricamente, dariam vantagem ao PH.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Presença no Brasil – </b>O PH possui ramificações no Brasil desde pelo menos 1810, com o estabelecimento das primeiras capelanias anglicanas, submetidas à Igreja Anglicana da Inglaterra. Posteriormente, em 1824, os luteranos chegam ao País, tendo como principais áreas de atuação o Rio Grande do Sul e a cidade de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. A partir dos anos 50 o protestantismo de conversão começa a se desenvolver no Brasil, por meio de presbiterianos (1859), metodistas (1876), batistas (1881) e episcopais (1890). Segundo Antonio Pierucci, trata-se de igrejas para cá trazidas e aqui implantadas pela palavra de pregadores e missionários enviados apenas com este fim: converter brasileiros (O Livro das Religiões, p. 281). De 1810 a 1910 temos, portanto, um período de 100 anos de atuação exclusiva do PH, no Brasil.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Investimento em Missões – </b>O PH é referência em investimento missionário, a exemplo das inúmeras agências missionárias mantidas por igrejas batistas e presbiterianas, mas também por metodistas. Não apenas estrangeiras, como a Missão Antioquia – fundada na década de 60, pela irmã Barbara Burns –, há várias agências de origem brasileira e mantidas por igrejas protestantes históricas e de conversão.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Investimento em Educação –</b> Outra área em que o PH é referência é na Educação. Não apenas na área teológica, mas também em educação secular as igrejas protestantes históricas são citadas como exemplo. É em Teologia, no entanto, que o PH desponta como referência histórica, nacional, como o departamento de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo, que há anos veem formando bacharéis e mestres.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contextualização</b></span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Apesar de o protestantismo histórico possuir mais tempo de atuação, ser citado como referência em missões e em educação, quais seriam as causas do baixo crescimento verificado nas últimas décadas? Segundo Alderi Souza de Matos, em análise do protestantismo brasileiro no período republicano, em 1930 o total de presbiterianos era de 44.500; batistas: 40.500, metodistas: 15.500 e assembleianos: 13.500. A doutora em Antropologia Carmem Cinira, em Religiões no Brasil (1991:56), destaca que em 1910 havia no Brasil apenas dois templos pentecostais; em 1970, eles já eram 1100, enquanto todas as outras denominações protestantes reunidas somavam 1400. “Diferindo de tendências históricas, que se desenvolveram mais na classe média, o pentecostalismo brota nas camadas mais pobres como grama após a chuva”, ressalta a antropóloga ao referir-se à disparidade de crescimento.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A questão socioeconômica dos brasileiros é uma das causas do baixo crescimento verificado em igrejas protestantes históricas, particularmente a partir da década de 50 quando o fenômeno migratório – motivado pela mecanização do campo e o aumento da oferta de trabalho nas grandes cidades e capitais – ocasiona os primeiros transtornos urbanos, como moradias precárias, massa de desempregados, diminuição da capacidade educacional e de saúde dos municípios. Neste contexto, o movimento pentecostal alcança as periferias, com inauguração de novos templos e conduzido por obreiros com pouca ou nenhuma instrução teológica e secular. Campanhas de cura e libertação – inspiradas em pregações de pastores norte-americanos – passam a ser um dos meios de alcance de uma população cujos índices econômicos, de acesso à saúde eram mínimos.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O surgimento de igrejas protestantes renovadas ou pentecostais e a introdução, a partir da década de 90, do modelo de evangelização conhecido como G12 ou Grupo dos Doze, são dois fenômenos que surgem em resposta ao avanço pentecostal e, ao mesmo tempo, como consequência de novas “visões” ou meios de sobrevivência de igrejas protestantes históricas – notadamente de igrejas batistas. O pentecostalismo assembleiano e de outras igrejas de segunda geração passam a ser tomados como base de uma nova estratégia missionária, de crescimento espiritual e numérico. Crentes desigrejados, insatisfeitos com o modelo tradicional de culto, vem impulsionando o desenvolvimento de um novo modelo de culto, que consiste na introdução de uma liturgia baseada em danças e ritmos seculares. Igrejas batistas, mas também pentecostais, como a Assembleia de Deus dos Últimos Dias, já adotaram o modelo.</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><b>Contato: </b>pesquisasreligiosas@gmail.com</span><br />
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span>Johnny Bernardohttp://www.blogger.com/profile/17255718851991013012noreply@blogger.com