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Uma metrópole e várias religiões

por Johnny Bernardo*

Em recente artigo sobre as religiões de Nova York, oferecemos uma breve introdução ao que chamamos de "fenômeno religioso globalizado" ou "as religiões das cidades globais". Na ocasião, fizemos referência a São Paulo como uma das cidades – alvo das grandes religiões, a partir de onde milhares de grupos se difundem pelo país e controlam seus rebanhos. É o caso, por exemplo, da Perfect Liberty (com 14 representações, dentre as quais uma clínica de Assistência Médica na vila Mariana), da Messiânica Mundial (com sede em SP e que possui uma área de 327.500 às margens da Guarapiranga onde funciona o "Solo Sagrado"), da Seicho – no – iê (com sede no Jabaquara) etc.

Nos últimos anos São Paulo tem experimentado também o crescimento das religiões esotéricas, como o Círculo Esotérico Comunhão do Pensamento, o Templo do Poder Espiritual e Cura Interior e grupos católicos exóticos, como a Igreja Católica das Santas Missões que promove campanhas de cura, libertação e exorcismo dirigidas pelo Pe. Zezinho e equipe de videntes (Brás).

A rádio Mundial é o front de batalha e marketing do esoterismo em São Paulo. Esotéricos, como a profetisa Lucia de Luca (do Templo do Poder Espiritual e Cura Interior) utiliza o espaço para divulgar suas campanhas de queima de espinhos, consultas de espiritualidade, o que são espíritos obsessores etc. Há ainda outros, como o médium Luiz Antonio Gaspareto (que afirma incorporar espíritos de pintores famosos), Primaz Aldo Bertoni (atual presidente da Igreja Apostólica Santa Avó Rosa, com sede no Tatuapé e apresentador da Hora Milagrosa) e o Pai Valdir de Oyá (sacerdote e Babalorixá do Culto dos Orixás e que mantém um instituto que leva seu nome).

Também encontramos em São Paulo grupos terapêuticos e de cura interior, como as palestras de regressão psicológica promovidas pelo terapeuta Amadeu Wolf em sua sede em SP e em hoteis do Estado. Mas o destaque recai mesmo sobre as igrejas neopentecostais, como a Igreja Universal do Reino de Deus (Brás), Igreja Apostólica Renascer em Cristo (Vila Mariana), Internacional da Graça de Deus (Centro), Igreja Mundial do Poder de Deus (do bispo Valdomiro Santiago e que funciona no galpão de uma antiga fábrica da Rua Carneiro Leão, no Brás) e a mais recente, a Igreja Mundial Renovada (uma dissidência da IMPD e que funciona a poucos metros da Igreja Mãe).

Das igrejas neopentecostais, a IURD é a de maior destaque. É dela o projeto de maior ambição - pretende construir uma réplica do Templo de Salomão no coração de São Paulo. Há ainda outras mega – igrejas, como a sede da Deus é Amor na Baixada do Glicério que é cinco vezes maior que a Catedral da Sé, há poucas quadras de distância. São Paulo é mesmo uma cidade multifacetada. Segundo uma reportagem feita em 2009 pelo jornal O Globo, a cidade de São Paulo ganhou, em média, um novo templo religioso a cada dois dias nos últimos quatro anos anteriores a matéria. Dados da Prefeitura mostram que somente em 2009 haviam 3.584 imóveis registrados como templos ou igrejas.

O jornal chama atenção também para a diversidade. "Entre as igrejas, há locais que abrigam punks, gays, judeus, católicos, evangélicos e mórmons. Em muitos casos, são imóveis adaptados para receber os fiéis. A igreja Renascer, cujo teto desabou no Cambuci, matando nove pessoas e ferindo mais de cem, era um cinema e também já foi uma concessionária de automóveis. O local está sendo demolido. Na zona leste, uma lanchonete do Mc Donald's foi adaptada para se tornar um templo da Universal. A Avenida Celso Garcia, na zona leste, transformou-se numa espécie de 'avenida da fé'. Pelo menos oito templos com credos diferentes foram abertos quase vizinhos uns aos outros. Os templos estão a menos de 400 metros uns dos outros."


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* é jornalista, pesquisador da religiosidade brasileira e das relações entre religião e sociedade, colunista do Gnotícias e do Núcleo Apologético de Pesquisas e Ensino Cristão (NAPEC)

Contato: pesquisasreligiosas@gmail.com